As palavras escritas são insuficientes para expressar a revolta que a movia.
Por sorte da humanidade Maria da Conceição Tavares viveu em um tempo em que suas entrevistas, aulas e palestras foram registradas em vídeo. É claro: as marcas que fizeram dela a principal mulher a se contrapor ao pensamento hegemônico da economia brasileira estão nos textos.
Mas não basta ler, é preciso ver Maria da Conceição Tavares.
Ao contrário da frieza dos tecnocratas que dominam o debate econômico, e aos quais ela dedicava tantas críticas, a emoção, a verve, a indignação da professora sempre estiveram à flor da pele.
As palavras escritas são insuficientes para expressar a revolta que a movia. A emoção transbordava da voz, do olhar, dos gestos com que hipnotizava seus ouvintes.
Era movida por ideias tão flamejantes que precisava dos movimentos corporais para enunciá-las.
Algumas vezes dava amistosos socos no peito do interlocutor para acompanhar o ritmo das frases. Este colunista passou por essa experiência duas vezes, ao entrevistá-la há muitos anos.
É esta expansividade que faz os vídeos de Maria da Conceição Tavares alcançarem tanto sucesso nas redes sociais.
Tome-se como exemplo a genial e dolorosa afirmação que a professora fez a uma turma da UFRJ, colocando os alunos frente a frente com um dilema existencial:
“Nós perdemos. Nós somos derrotados. E se vocês não fossem derrotados não vinham pra essa universidade, iam pra USP, pra PUC, pra outra qualquer. Ou pra Harvard. Pra aqui é que não viriam, seguramente. Isso está claro.
Estamos lutando pela hegemonia? Imagine-se.
Estamos lutando apenas pra não ficar malucos. Para não dizer besteiras demais. Pra não contribuir com a nossa gota de fel para um veneno alheio. Tomemos a nossa dose de cicuta com tranquilidade, meus filhos.
E até a próxima quarta”.
Já seria épica essa fala, lida em uma folha de papel ou em uma tela de celular. Mas o momento foi eternizado pelas lentes de uma câmera de vídeo.
A dramaticidade dessas palavras foi potencializada ao infinito pelas expressões faciais, pelo olhar e pelo tom de voz da mestra.
*Chico Alves/ICL