Campanha contra doença que pode voltar ao país é negligenciada por gestores que publicaram decretos antivacina no início do ano.
Desde 2018 Santa Catarina não atinge a meta de 95% de cobertura vacinal contra a poliomielite, cuja campanha de vacinação começou a ser divulgada pelo Ministério da Saúde no início desta semana, com o Dia D marcado para 8 de junho.
Sem a meta, há riscos de reintrodução da doença no estado, que no dia 30 de maio registrava índices de cobertura de 90,04% da vacina injetável e 80,59% da oral bivalente, o que indica que os pais não estão completando o esquema de vacinação, composto pelos dois tipos de imunizantes na infância.
Apesar da divulgação da campanha no site oficial do governo do estado, nas suas redes pessoais o governador Jorginho Mello (PL) e os prefeitos bolsonaristas de algumas das principais cidades catarinenses evitam o tema, mesmo tendo feito alarde, há cerca de 4 meses, com a emissão de decretos com teor antivacina largamente difundidos em vídeos e postagens.
Há exatos quatro meses, Mário Hildebrandt (PL), prefeito bolsonarista de Blumenau, um dos polos regionais de Santa Catarina, emitiu decreto desobrigando as crianças da cidade de serem vacinadas contra a Covid-19 para a matrícula na rede escolar, diz o ICL.
A medida teve uma espécie de efeito manada, espalhando-se por outros municípios até ser considerada inválida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após uma ação ajuizada pelo PSOL-SC.
Cidades como Criciúma, Chapecó e Joinville, todas polos das suas regiões, também emitiram decretos, o que foi rapidamente seguido pelo governador catarinense.
Em 2 de fevereiro, Jorginho Mello gravou um vídeo em que disse que “em Santa Catarina a vacina não é obrigatória. Fica na consciência de cada catarinense”, referindo-se à prevenção da Covid-19 em crianças.
Coincidentemente, Santa Catarina não atinge a meta recomendada pelo Ministério da Saúde contra a pólio desde o ano da eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, assumidamente antivacina e um dos líderes inspiradores de políticos como Clésio Salvaro (PSD), prefeito de Criciúma, maior cidade da região Sul; Adriano Silva (Novo), de Joinville, cidade mais populosa do Estado, e João Rodrigues (PSD), de Chapecó. Juntos, eles são responsáveis por uma população de 1.038.982 pessoas.
Entre janeiro e fevereiro, estes prefeitos que assinaram decretos com teor antivacinação foram seguidos por outros 16 gestores municipais. Não apagaram as postagens em que divulgavam os decretos desobrigando a vacina contra a Covid-19 e não fizeram qualquer menção à campanha recém-lançada pelo Ministério da Saúde para evitar que uma doença erradicada volte a gerar sofrimento e mortes no país.