‘Este é o Congresso que saiu das urnas. Ele tem forte presença conservadora e contundente ação reacionária de uma bancada identificada com o bolsonarismo’, disse o senador
As derrotas impostas pelo Congresso ao governo Lula nas votações da última terça-feira mostraram que a bancada democrática e progressista deve ampliar o engajamento e corrigir rumos para frear o avanço de pautas extremistas, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) em entrevista ao UOL News nesta quinta (30).
– O campo democrático-progressista, que não é majoritário no Congresso, tem uma identificação histórica com agendas como a necessidade do combate a fake news. Precisamos que esta bancada se mobilize e se engaje mais. É um problema da circunstância histórica que enfrentamos. Temos uma escalada de uma ofensiva local, mas também global, da extrema-direita e de pautas extremistas, que dialogam com o fascismo em alguns aspectos. Há um recuo e uma ausência de reação que acaba se expressando no parlamento também no campo democrático-progressista. Essa é uma correção de rumo que precisa ser feita – Randolfe Rodrigues, senador (sem partido-AP) e líder do governo no Congresso.
Para Randolfe, a bancada progressista precisa refletir sobre o momento atual, com um Congresso predominantemente composto por parlamentares conservadores e se debruçar na defesa de pautas com as quais se identificam historicamente.
– Este é o Congresso que saiu das urnas. Temos que nos relacionar com ele e respeitar o resultado das urnas. Ele tem uma forte presença conservadora e uma contundente ação reacionária de uma bancada identificada com o bolsonarismo, que tensiona a relação a partir de uma realidade dos tempos que vivemos, com o domínio das redes sociais que eles têm. Isso é uma circunstância. É uma reflexão que precisamos ter. Para o campo democrático e progressista, é necessário maior engajamento, mobilização e presença no debate de todos os temas. Não podemos entregar de graça algumas questões, como o combate a fake news. Precisamos de engajamento maior em temas caros para nossa tradição política – continuou Randolfe.
– Não podemos aceitar passivamente uma ofensiva de natureza fascista e concordar que ela seja normal. Isso é uma tarefa do Parlamento e da sociedade.
O senador avalia que as derrotas sofridas pelo governo Lula não foram causadas por problemas na articulação política. Para Randolfe, mesmo com lideranças diferentes não haveria alteração no resultado das votações por conta do perfil do Congresso Nacional.
– Alguém imagina que o resultado seria outro se os líderes fossem diferentes? Com o Congresso que temos e a relação com ele, herdada do período passado, se Rodrigo Pacheco [presidente do Senado] fosse líder do governo e Arthur Lira [presidente da Câmara], secretário de Relações Institucionais, o resultado da votação teria sido o mesmo – afirma.
– Não se trata de articulação política em relação a temas como esse, mas de uma posição estabelecida, consolidada. Uma das fotos que é o significado do resultado da sessão do Congresso Nacional é a selfie de vários parlamentares comunicando por suas redes sociais o resultado daquela votação. É diagnóstico do tempo que tivemos – prossegue.
Rodrigues atribui as críticas que recebeu após o resultado das votações da última terça à cobiça pelo cargo de líder do governo no Congresso.
– Se eu estivesse filiado ao PT, a crítica seria ‘mais um líder do PT’. Se fosse do PSB, seria ‘é um líder de um partido minoritário no Congresso e não consegue liderar’. É porque há muita cobiça pelo cargo. Afinal de contas, há sempre outros interesses por trás desta cobiça, sobretudo em um momento atual em que parte do orçamento é conduzido pelo próprio Congresso- disse o senador.