Por Pedro Augusto Pinho*
O Estado de S. Paulo, sábado passado, 18 de maio de 2024.
Uma das manchetes de capa da edição era ”Campos Neto diz que não tem que avisar o governo ao mudar orientação para juro”.
A chamada completa ocupava um quarto da primeira página acima.
Roberto de Oliveira Campos Neto (1969) é formado em economia na Universidade da Califórnia (EUA). Trabalhou no mercado financeiro entre 1996 e 2019, quando, nomeado pelo Presidente Jair Bolsonaro, assumiu a presidência do Banco Central do Brasil.
Sua única credencial é ser neto de Roberto de Oliveira Campos (1917-2001), ministro de Castelo Branco, que jamais se destacou pelo brilho intelectual.
Roberto de Oliveira Campos jamais se destacou pelo brilho intelectual.
Em 1999, sua candidatura à Academia Brasileira de Letras sofreu forte oposição dos acadêmicos e só se impôs pelo patrocínio do dono da mídia, milionário e influente político, Roberto Marinho.
Campos denominou seu livro de memórias “A lanterna na popa”, realmente jamais soube ver à frente e, muito menos, a favor do Brasil, daí seu apelido “Bobby Fields”.
Mas ele e muitos outros, incapazes de perceber os fatos em sua complexidade, apelam para as polaridades. No caso político de esquerda ou direita.
Esta não é a postura de pessoas que prezam a compreensão das situações e buscam a melhor solução pelo mais competente executor.
Veja-se o caso de Hélio Marcos Pena Beltrão (1916-1997).
Um ano separa os nascimentos de Roberto Campos e Hélio Beltrão.
Enquanto Campos cursava seminário católico, Beltrão buscava o serviço público e a formação jurídica.
Em 1953, Campos trabalhava junto aos estadunidenses, embora representando o Brasil, e Beltrão, com visão prospectiva redigia o Plano Básico de Organização da Petrobrás.
Campos serviu como ministro do Planejamento de Castelo Branco e Beltrão ocupou a mesma pasta com Costa e Silva.
Beltrão, embora conservador, nunca enfrentou uma polêmica como direitista ou contra os interesses nacionais. Já Campos, por falta de argumentos, se refugiava na direita e no exemplo estadunidense.
Acompanhando a vida de Beltrão na Petrobrás, jamais ouviu-se de alguém a mais leve insinuação de entreguista, que sempre acompanhou Roberto Campos.
Seu filho, pai do atual presidente do Banco Central, tinha no currículo o apelido de“americano”, dado por seus colegas do tradicional e conservador Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, onde estudou.
Se o avô não era dos mais iluminados e se mantinha em destaque na mídia pelo fervor entreguista com que defendia os interesses estadunidenses, o neto, menos preparado, nada mais representa do que as finanças apátridas, as mesmas que deram o golpe na sucessão de Geisel, que hoje, como desde 1990, dominam o governo brasileiro.
As finanças apátridas têm levado o Brasil a tragédias — como as Brumadinho, Mariana, Petrópolis e do Rio Grande do Sul — principalmente devido à falta do Estado, às privatizações.
As finanças apátridas também eliminaram a tranquilidade do futuro, na forma de empregos e da previdência social, cuidados por Geisel, fornecendo um número nunca visto no País de casos de ansiedade às portas de psicólogos e psiquiatras.
Para não apontar o que está à vista de todos, nas grandes cidades: moradores de rua, desemprego ou uberização, epidemias, assaltos, insegurança, e, em consequência, medo e ódio.
Tudo isso se cristaliza na campanha de Campos Neto para se manter, tratando da moeda nacional, fora dos controles do Estado e dos eleitos pelo povo para os representar.
Lula, como na escolha da presidência da Petrobrás, trocará seis por meia dúzia ou reverterá a dominação estrangeira no Banco Central do Brasil?
*Viomundo