Um dos projetos dos ruralistas ameaça a vegetação nativa em todos os biomas, e retira descontroladamente proteção da Mata Atlântica, diz Alceu Castilho
Em meio à comoção dos brasileiros com a tragédia no Rio Grande do Sul e os esforços para reconstruir o estado, a responsabilização dos atores que contribuíram para o cenário de destruição também deve estar em pauta, já que não se trata de um caso isolado.
Alguns dos responsáveis pela atual situação do RS, que já impactou mais de dois milhões de moradores gaúchos, são o próprio governador Eduardo Leite e a bancada ruralista como um todo, e no meio dela, alguns expoentes gaúchos dessa frente parlamentar. A opinião é do jornalista e editor do De Olho nos Ruralistas, Alceu Castilho, em entrevista à TV GGN.
“A gente que trata diariamente de ambiente fica indignado, apesar de solidário à comoção nacional do brasileiro em torno da catástrofe, mas fica indignado com o cinismo, e o cinismo passa pelo Congresso”.
Além disso, “estamos vendo muito oportunismo, de coach, de influencer e até de televisão aberta, como se esses atores estivessem realmente preocupados com o ambiente”.
A bancada ruralista e seus expoentes
Alceu exemplifica a sua posição citando dois expoentes da bancada ruralista. O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) e o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), líder do agro no Congresso Nacional, que assinam projetos impactantes contra o meio ambiente.
Ambos assinam projetos que jogam contra as áreas de proteção permanente, propondo irrigação em áreas de proteção permanente (APP). O outro banca um projeto que libera 5% do território brasileiro para 48 milhões de hectares a mais para o cultivo contra o meio ambiente, inclusive quase ⅓ do pampa, 32% do pampa”.
O projeto a que Alceu se refere é de autoria do ruralista Alceu Moreira (MDB-RS), mas com texto substituído pelo do deputado federal e relator Lucas Redecker (PSDB-RS). Aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados em abril, o PL 364/19 ameaça a vegetação nativa em todos os biomas, podendo retirar proteções específicas da Lei da Mata Atlântica de forma descontrolada. O PL agora segue para o Senado.
De acordo com o jornalista, Heinze não fica atrás do colega conterrâneo. Em 2016, em Brasília, Alceu questionou Heinze sobre as mudanças climáticas e o político disse não acreditar, mesmo diante das evidências elencadas por professores e cientistas da Universidade de Brasília (UnB) presentes no dia.
“Ele é um negacionista climático, negacionista das vacinas, no combate à Covid-19, e está aí, foi presidente da frente parlamentar agropecuária, assim como o seu conterrâneo Alceu Moreira”.
*GGN