Desde o início das chuvas, a Defesa Civil do estado já contabiliza quase 340 mil desalojados.
Desde que começaram as chuvas no Rio Grande do Sul no dia 29 de abril, a tragédia que causou até ontem a morte de 126 pessoas também deixou quase 340 mil gaúchos fora de suas casas. Neste grupo, muitos optaram por abandonar não apenas a residência, mas o estado. Todos carregam em comum a tristeza por se afastar da terra natal, assim como a lembrança do medo e incerteza vividos antes. Alguns já falam em começar uma nova vida em outro lugar. E entre os que voltam, é comum ouvir que, assim que as águas baixarem, se apresentarão para trabalhar em ajudar quem ficou e recuperar o que foi destruído.
Para o líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, Alexandre Prado, essas pessoas que tiveram de deixar suas casas por causa de enchentes ou deslizamentos já podem ser considerados “refugiados climáticos”.
— Não são os primeiros e certamente não serão os últimos — alertou.
A Agência da ONU para Refugiados defende o uso do termo apenas para quem mudou de país por causa do clima. Mas o que vivem hoje os moradores do Rio Grande do Sul que tiveram de se retirar às pressas de lares alagados ou ameaçados de serem destruídos pela força das águas se adéqua à definição de refugiado climático criada em 1985 pelo professor Essam El- Hinnawi, do Programa da ONU para o Meio Ambiente: pessoas forçadas a deixar seu habitat tradicional, temporária ou permanentemente, “por causa de uma perturbação ambiental acentuada, natural ou desencadeada por pessoas, que comprometeu sua existência ou afetou seriamente a qualidade de vida”.
‘Horrível abandonar tudo’
A cabeleireira Paula Lessa, de 42 anos, que desde a quarta-feira mora na casa de uma prima no Rio, saiu de Porto Alegre sem previsão de volta. A decisão foi tomada depois de ver as ruas ao redor do seu prédio, no 4º distrito, serem tomadas pela água que atingiu também o seu salão de beleza. Paula já procura emprego e tem o chimarrão como o principal elo com a vida de até duas semanas atrás:
— É horrível ter que abandonar tudo que você construiu. Nunca me imaginei nessa situação de total desespero. A gente vê refugiados fugindo da guerra, parece distante, nunca imaginamos que vai acontecer com a gente. De um dia para o outro você perde a sua casa, o trabalho, a condição de se manter, a dignidade, os sonhos e até a esperança. Mesmo assim, estou grata por ter sido acolhida no Rio.