Em viagem a Washington, o ministro Fernando Haddad afirmou que governo Biden apoia a iniciativa de taxação global dos milionários. O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, também compartilhou integralmente a iniciativa brasileira.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, angariou apoios importantes no esforço do Brasil para a taxação dos super-ricos. Ele esteve nos Estados Unidos para participar de reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), e também se encontrou com ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20.
Em entrevista coletiva na quarta-feira (17), Haddad afirmou que o governo do presidente Joe Biden apoia a medida. Ao lado do ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, ele disse esperar que o G20 possa chegar a um acordo sobre a taxação de super-ricos ainda neste ano.
“Especificamente, a administração Biden tem dado sinais claros de que algo precisa ser feito (sobre a taxação de super-ricos). Ou no plano doméstico, ou no plano internacional”, afirmou. Le Maire disse concordar com a necessidade de aprovação da medida. “Essa é apenas uma questão de vontade política e de determinação política”, declarou.
No berço das finanças
Ocupando a presidência do G20 este ano, o Brasil apresentou a proposta, pela primeira vez, na Trilha de Finanças do bloco, em São Paulo, em fevereiro. Ao participar de painel na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta semana, Haddad disse que o Brasil “vai trabalhar de maneira incansável” para a taxação internacional dos mais ricos e o combate à fome. Nesse sentido, sua expectativa é incorporar essas pautas ao ao senso comum.
“Falava-se muito em meritocracia e nem isso está sendo respeitado por esses mecanismos atuais, para alcançar pessoas de classe média e pobres. E a partir do momento que você vai subindo os degraus da riqueza e da fortuna você vai escapando das malhas dos estados nacionais e vivendo quase que em uma nuvem, em um paraíso fiscal internacional que se criou. Isso tem que ser superado”, defendeu.
Le Maire, do mesmo modo, afirmou que “compartilha integralmente” o ponto de vista brasileiro. Ele disse que, junto à proposta brasileira de taxação de fortunas, defendeu a necessidade de ampliar a transparência no sistema financeiro. Citou ainda que, além de Paris, outras economias europeias também apoiam o esforço brasileiro. Além disso, defendeu também um imposto corporativo mínimo comum.
Nesse sentido, afirmou que não combater a desigualdade por meio da tributação internacional é “injusto e inaceitável”. “É uma questão de eficiência e de justiça. A ideia é que cada um pague sua justa contribuição. Quero agradecer ao Brasil por colocar isso como prioridade durante a Presidência brasileira do G20. Fernando, você pode contar com o apoio absoluto da França”, disse o francês.
Apoio da esquerda estadunidense
Além dos foros multilaterais, Haddad também foi ao Senado dos Estados Unidos. O senador Bernie Sanders recebeu o ministro em seu gabinete, acompanhado da deputada Ilhan Omar. Os dois integram a ala esquerda do Partido Democrata.
Sanders defendeu a proposta brasileira como alternativa à luta dos governos nacionais contra a evasão tributária, realizada por grandes corporações e indivíduos com grandes fortunas acumuladas: “Isso deve ser feito globalmente. Ao redor do mundo, os governos estão se esforçando para obter recursos. Não vai acontecer amanhã, mas tem que ocorrer o mais rapidamente possível”.
A deputada Ilhan Omar ressaltou a importância de que uma possível tributação internacional resulte em ganhos coletivos. “É muito importante encontrar caminhos. Não só fazer com que todos paguem sua justa contribuição, mas que os recursos sejam aplicados, por exemplo, em sistemas de saúde e no combate à mudança climática”, apontou a parlamentar.
Campanha: “É justo, justíssimo”
Pelas redes sociais, a Campanha Tributar os Super-Ricos celebrou os avanços nas articulações internacionais pela iniciativa inédita do Brasil. “Os bilionários fogem ao máximo dos tributos mundo afora”, destacam as mais de 70 organizações sociais, entidades e sindicatos que compõem o movimento. Ressaltaram que é preciso “união” para superar esse quadro, que contribui para a manutenção das desigualdades pelo mundo. E celebraram o apoio de Estados Unidos e França. “O desafio é construir esse consenso nos próximos meses”.
*RBA