Abuso do espaço atmosférico pode significar, inclusive, a impossibilidade de novas missões. ONU emite alerta sobre o caso.
Na última sexta-feira (12), a comunidade internacional celebrou o Dia Internacional dos Voos Espaciais Tripulados. Data que marca o histórico voo do soviético Yuri Gagarin, o primeiro ser humano a chegar ao espaço em 1961. A ocasião serve como um momento para refletir sobre os avanços, desafios e oportunidades da exploração espacial. Entre os problemas de hoje, estão o lixo espacial. Incentivados por programas irresponsáveis, como do bilionário de extrema direita, Elon Musk, que povoa o espaço com um número sem precedentes de satélites do programa Starlink.
Atualmente, o cenário espacial é marcado pelo crescente envolvimento de empresas privadas, aumento da quantidade de objetos em órbita e lançamentos de missões. Para abordar essas tendências a diretora do Escritório da ONU para Assuntos do Espaço Sideral, Unoosa, Aarti Holla-Maini, tece críticas a respeito.
Desafios ambientais e segurança espacial
Um dos principais desafios apontados por Holla-Maini é entender o impacto da fumaça dos lançamentos de objetos espaciais na atmosfera. Segundo ela, “pode ser que descubramos que já estamos numa situação urgente”. Além disso, a preocupação com o aumento de detritos e satélites antigos que reentram na atmosfera é crescente.
Então, ela entra no problema do Starlink. Sem devido estudo científico, a empreitada do empresário megalomaníaco pode significar, defendem cientistas, um lixo espacial sem precedentes. Na prática, isso pode até mesmo impedir novos lançamentos, “trancando” para sempre os humanos na Terra.
Atualmente, há “tantos objetos de todos os tamanhos” no espaço, sem uma compreensão abrangente de sua localização e movimentação. Para a especialista, é crucial que os detritos e a poluição espacial sejam uma prioridade de cooperação entre os países, por meio das Nações Unidas, visando “melhorar a segurança espacial para todos”.
Essa segurança é essencial para voos espaciais humanos, observações astronômicas e garantir a continuidade de comunicações e imagens de satélite essenciais para monitoramento do clima.
Programa Spider e resposta no espaço
Holla-Maini mencionou o programa Spider, mandatado pela Assembleia Geral da ONU, que fornece informações espaciais para resposta a desastres e emergências. Os benefícios incluem alerta precoce e monitoramento para inundações, secas, incêndios florestais e doenças transmitidas por mosquitos, entre outros.
O objetivo da ONU é “garantir que todos os Estados-membros que necessitam estejam capacitados e equipados” para serem resilientes face a choques globais, especialmente os ligados ao clima.
Conferência de Atividades Lunares Sustentáveis
Em junho, a Unoosa realizará a Conferência de Atividades Lunares Sustentáveis, a primeira sobre o tema. Tanto o subcomitê científico e técnico como o subcomitê jurídico da Unoosa tratam das atividades na Lua.
Questões legais no espaço
No ambiente legal, ocorrem debates sobre o destino de recursos extraídos de corpos celestes e sua possível apropriação comercial. Holla-Maini destacou que essas questões são difíceis porque conflitam com os princípios fundamentais do Tratado do Espaço Sideral, que estabelece que o espaço pertence a toda humanidade e não permite um “ângulo comercial”.
Ela enfatizou que não há uma competição no espaço como na época da Guerra Fria, e é o momento de olhar para a ciência e exploração espaciais com “abordagens mais inovadoras e pragmáticas”.
Inclusão da indústria e poder de decisão dos Estados
Holla-Maini defendeu novas formas de incluir a indústria no diálogo, preservando o poder de decisão dos Estados-membros. Segundo ela, “se as agências espaciais realizarem por si próprias grandes missões espaciais, correm o risco de demorar muito mais tempo e de serem muito mais caras”.
Em conclusão, o Dia Internacional dos Voos Espaciais Tripulados é uma oportunidade para celebrar os avanços da exploração espacial e refletir sobre os desafios e responsabilidades compartilhadas pela comunidade global na busca por uma exploração espacial segura e sustentável.
*RBA