Com o início do mês sagrado do Ramadã, a tensão na região do Oriente Médio atinge níveis alarmantes. O planejamento para a invasão de Rafah, por terra, acrescenta um ingrediente sangrento ao momento mais sagrado para muçulmanos do mundo todo. Bombardeios no Líbano e violência contra palestinos na Cisjordânia agravam o humor religioso, enquanto os árabes são impedidos de acessar a mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, um dos principais pontos de peregrinação muçulmana do mundo.
Diante das ameaças de invasão a Rafah, a última fronteira onde o governo de Israel dizia que os palestinos podiam ir com segurança, os Estados Unidos manifestam críticas à falta de um plano israelense para proteger civis em uma potencial invasão de Rafah, no sul de Gaza. O contraditório comportamento de Washington tenta criar alguma impressão junto à opinião pública americana, onde a imagem de Joe Biden está desgastada pelo apoio armado e permanente a Israel. No mundo árabe, usa-se a expressão “falar com duas bocas” para se referir a Biden.
O prazo auto-imposto por Israel para a invasão coincide com o Ramadã, ampliando ainda mais as preocupações sobre a segurança dos civis na região. O Departamento de Estado dos EUA afirmou que Israel não compartilhou um plano adequado de assistência humanitária para Rafah, destacando a necessidade de uma abordagem que garanta a segurança dos civis durante qualquer operação militar.
Enquanto isso, ataques israelenses continuam a assolar Gaza, aumentando as tensões e elevando o número de vítimas civis. A UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo) ressaltou a urgência de um cessar-fogo imediato para evitar mais sofrimento como o flagelo da fome, especialmente durante o período sagrado do Ramadã. De acordo com o Ministério da Saúde, pelo menos 21 crianças palestinas morreram de fome em Gaza nos últimos dias, enquanto as autoridades israelenses continuam a bloquear e restringir a ajuda humanitária.
Incêndio incontrolável
A Jordânia também expressou preocupação com as restrições impostas por Israel ao acesso dos fiéis ao complexo da Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém Oriental ocupada, durante o Ramadã, alertando que essas ações podem levar a uma escalada da situação.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que não vai restringir o número de fiéis na mesquita de Al-Aqsa na primeira semana, mas que isso poderá mudar com base numa avaliação de segurança semanal. Muitos desistem das orações por receio do que podem acontecer com o forte aparato militar nas entradas de Jerusalém.
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina afirma num comunicado que “a agressão contínua contra Al-Aqsa é o caminho mais curto para explodir toda a arena do conflito e levá-la para a fornalha de um incêndio difícil de controlar”. O ministério também apela a uma “intervenção internacional urgente e séria” para impedir os movimentos israelenses contra locais religiosos.
Enquanto isso, em Israel, o porta-voz militar para a mídia árabe, Avichay Adraee, divulgou um vídeo de supostos soldados muçulmanos do exército israelense quebrando o jejum no primeiro dia do Ramadã, enquanto a ONU e outras agências humanitárias dizem que Israel está impondo condições semelhantes às da fome aos palestinos em Gaza. Os vídeos de deboche entre soldados e autoridades militares israelenses se propagam viralmente pela internet.
O proeminente jornal francês Liberation publicou uma caricatura zombando de palestinos famintos para marcar o início do Ramadã. Retrata um homem palestino correndo atrás de ratos e baratas enquanto uma mulher o detém, supostamente porque ainda não é hora de quebrar o jejum, enquanto uma criança faminta observa. Uma mão pode ser vista saindo dos escombros de um prédio bombardeado pelos militares israelenses.
O Líbano também enfrenta os efeitos das hostilidades, com relatos de ataques israelenses atingindo o território libanês, em Baalbeck, Aita al-Shaab e Aaqoura, em uma escalada de tensões entre Israel e o Hezbollah.