A Polícia Federal identificou dois militares que teriam colaborado na redação de uma carta enviada por oficiais da ativa ao comandante do Exército em 2022, pressionando por uma postura radical em relação a pedidos de golpe para manter Jair Bolsonaro na Presidência. Segundo o relatório da PF, obtido pela Folha de S. Paulo, o coronel Giovani Pasini foi identificado como autor da carta, enquanto o coronel Alexandre Castilho Bitencourt da Silva teria sido o último a realizar modificações no documento.
A carta circulou sem o nome do autor, e o método de coleta de assinaturas não permite saber quantos oficiais da ativa subscreveram o texto.
Essa identificação foi feita por meio da análise de metadados do documento, que foi recebido pelo tenente-coronel Mauro Cid na véspera da publicação do texto. O coronel Pasini, oficial de artilharia formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1997, é apontado como autor da carta. Ele pediu licença do Exército em 2022 para se candidatar a deputado estadual pelo partido Patriota, mas não foi eleito. Após a divulgação da carta, retornou à Força e solicitou a reserva.
Já o coronel Alexandre Bitencourt, também formado em 1997, da arma de infantaria, morou no Chile por seis meses em 2022 para fazer uma pós-graduação em condução de políticas estratégicas de defesa. Após retornar ao Brasil, foi realocado para uma função no Departamento-Geral de Pessoal do Exército.
A carta dos oficiais da ativa foi divulgada em um momento de tensão política, quando bolsonaristas radicais acampavam em frente a quartéis do Exército pedindo intervenção das Forças Armadas contra a eleição de Lula. Além disso, há indícios de que Bolsonaro e aliados discutiam planos para um golpe de Estado na época.
O documento, que circulou sem o nome do autor, foi uma resposta a uma carta aberta de oficiais da reserva, que manifestavam desconfiança com o resultado das eleições e solicitavam apoio para o restabelecimento da lei e da ordem. A participação em manifestações conjuntas é considerada infração no Exército e pode resultar em punição.
“Srs bom dia Alertem aos seus subordinados que a adesão a esse tipo de iniciativa é inconcebível. Eventuais adesões de militares da ativa serão tratadas, no âmbito do CMS (Comando Militar do Sul), na forma da lei, sem contemporizações”, escreveu o general Fernando Soares para chefes de organizações militares à época em que circulou a carta entre oficiais.
Bolsonaristas e militares incitavam o comando do Exército ao golpismo, atacando nas redes sociais os oficiais contrários à ruptura democrática.
A divulgação dessas informações ocorre no contexto de pedidos de prisão e buscas contra ex-ministros e militares suspeitos de tramarem um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após a derrota para Lula. As investigações da Polícia Federal apontam para a existência de planos para um golpe, com incitação de militares e bolsonaristas nas redes sociais.
Leia abaixo trechos da carta:
“Consideramos importante, portanto, que os Poderes e Instituições da União assumam os seus papéis constitucionais previstos em lei e em prol da pacificação política, econômica e social, especialmente para a manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais, respeitando o pacto federativo previsto na regra basilar de fundação da República.”
“Covardia, injustiça e fraqueza são os atributos mais abominados para um Soldado. Nossa nação, aquela que entrega os maiores índices de confiança às Forças Armadas, sabe que seus militares não a abandonarão.”
“É natural e justificável que o povo brasileiro esteja se sentindo indefeso, intimidado, de mãos atadas e busque nas FFAA [Forças Armadas], os ‘reais guardiões’ de nossa Constituição, o amparo para suas preocupações e solução para suas angústias”.