Exposição de supostas participações em intentonas golpistas faz com que sociedade repense o papel dos militares na defesa do País.
Esquema de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), negligência na contenção de terroristas que destruíram as sedes dos Três Poderes, planejamento de golpe de Estado. São muitas as acusações contra as Forças Armadas, que teriam participado de um conluio para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após derrota nas eleições de 2022 e até antes do resultado das urnas, diante da evidente possibilidade da vitória de Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) no pleito.
Apesar do momento embaraçoso para os militares, o País vive um momento histórico, na visão de Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça em 2016, na gestão de Dilma Rousseff (PT). Segundo o jurista, trata-se de um momento de afirmação do poder civil sobre o poder militar. “Isso é praticamente único na história da nossa República, lembrando que os militares mandam ou são coadjuvantes de quem manda nesse país desde a Guerra do Paraguai. A nossa República foi proclamada por meio de um golpe militar. Temos uma conta muito alta a pagar por conta dessas intentonas militares.”
Convidado do programa TVGGN 20H da última sexta-feira (16), Aragão chama a atenção para o baixo nível intelectual daqueles que deveriam garantir a segurança do País. “A turminha que está aí é de um primitivismo, quase de demência da forma como se comportam nos seus cargos. Na hora que você aperta o parafuso, todos começam a chorar. Quanto tempo eles iriam aguentar em campo, para defender a pátria, se eles choram quando a PF [Polícia Federal] bate à porta”, observa.
Função
O jurista afirma ainda que um aspecto importante do atual cenário brasileiro é justamente a exposição do envolvimento de militares em tramas golpistas, pois além de servir para separar o joio do trigo, também mexe com a opinião pública, a fim de provocar debates sobre quais são os papéis e competências dos militares em um Estado democrático.
“Os militares precisam se conscientizar de que o país tem de ter forças armadas profissionais. Os riscos nesse mundo globalizado são enormes. O país só será levado a sério se tiver dentes. Um cachorro desdentados pode latir, mas não morde. O país tem de usá-los como uma forma de prevenção.”
Mas, para que as Forças Armadas adotem uma nova doutrina militar, a formação dos oficiais deve ter alterações. “Precisa de uma doutrina militar defensiva do Brasil, ter capacidade de se defender como grande ativo nacional. É esse o papel deles. O papel deles não é se meter em políticas”, continua o entrevistado.
Início da trama
Para Aragão, a eleição de Jair Bolsonaro como presidente da República “só aconteceu por uma forçação de barra das elites, que estavam sem candidato”, até porque o então deputado federal de carreira era desacreditado por todos.
Porém, a tentativa de golpe para tirar o PT do poder teria começado ainda em 2014, quando Michel Temer (MDB) se lançou candidato à vice-presidente na chapa de Dilma após uma convenção. “Não foi à toa que o Temer teve todo esse esforço para tirar todos os concorrentes do PTB”, emenda .
“No dia do golpe, quando saímos do Palácio do Planalto e horas depois chega Temer com aquela turma dele, aquilo parecia um monte de urubu entrando no Palácio do Planalto. Tudo homem velho, cabeça branca e ternos pretos. Aquela imagem foi tão assustadora”, conclui Eugênio Aragão.
*GGN