Foram dez dias que abalaram a oposição bolsonarista. De 30 de janeiro a 8 de fevereiro, o presidente Lula (PT) participou de eventos públicos com quatro governadores que não apoiaram sua eleição ao Planalto. Em 2022, Cláudio Castro (PL-RJ), Ratinho Júnior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) subiram no palanque do então presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição.
Agora, graças às obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Lula atraiu esses governantes para a órbita do governo. Nas agendas, o presidente anunciou projetos e investimentos federais capazes de estimular a economia regional. Até onde havia arestas, como em Minas Gerais, fez-se trégua. Todos os governadores, incluindo Zema, agradeceram a Lula publicamente.
O primeiro ato ocorreu em 30 de janeiro, no Palácio do Planalto, em Brasília. Ao lado de Ratinho Júnior, Lula formalizou a concessão de 19 trechos de rodovias federais e estaduais para a iniciativa privada. Leiloados em 2023, conforme projeto elaborado pelo governo paranaense, essas rodovias se estendem por mais de mil quilômetros e mais de 40 municípios. O investimento total será de R$ 30,4 bilhões.
No dia da cerimônia, Ratinho não chegou a citar Lula nas redes sociais, mas postou uma foto da solenidade em que os dois aparecem. “Muito feliz em participar da transformação da infraestrutura com o início das concessões”, registrou. “Assinamos os contratos, lotes 1 e 2, pra melhorar as estradas. É investimento pro povo, pra 1,1 mil km de novas rodovias, 700 km de duplicação e pedágio mais em conta”.
No dia 2 de fevereiro, foi a vez de Lula desembarcar em São Paulo para participar de uma série de eventos. Um deles, no Porto de Santos, no litoral sul paulista, contou com a presença de Tarcísio de Freitas. Foi o anúncio da parceria entre os governos federal e estadual para a construção do túnel Santos-Guarujá, orçado em R$ 5,8 bilhões. Quando o empreendimento ficar pronto, em 2028, será o primeiro túnel imerso da América Latina, diz o Vermelho.
Os dois mandatários trocaram elogios. “Vamos deixar esse legado trabalhando juntos. Muito obrigado pela parceria, presidente Lula”, discursou o governador. “Tarcísio, você terá da Presidência da República tudo o que for necessário, porque não estou beneficiando governador. Estou beneficiando o estado mais importante da Federação”, disse Lula.
Ao Rio de Janeiro, o presidente dedicou dois dias de compromissos e muitos anúncios. Em 6 de fevereiro, por exemplo, ele participou da entrega de 832 apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, em Magé. A seu lado estava Cláudio Castro. “As eleições definitivamente acabaram e nós temos que trabalhar juntos para fazer aquilo que nós fomos eleitos para fazer, nosso compromisso maior, que é trabalhar pelo povo”, disse o governador.
A última parada de Lula neste ciclo de dez dias foi Belo Horizonte (MG). Em cerimônia com a presença de Zema, o Planalto anunciou R$ 121,4 bilhões em obras do PAC para Minas. O governador fez o primeiro aceno: “Na minha vida de gestor, aprendi que podemos pensar diferente, o que é normal. Mas a boa convivência, sem extremismos, é o que vai fazer a vida dos mineiros melhorar”, declarou Zema. Lula retribuiu: “O que a gente vai anunciar não é um pensamento do governo federal – mas resultado do compartilhamento de uma política pública civilizatória que resolvemos adotar”.
A data dessa agenda derradeira coincidiu com a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal, que teve como alvos Bolsonaro e aliados. Assim, as pautas positivas para Lula junto a governadores bolsonaristas culminaram em um novo revés para o ex-presidente. Ao menos em público, nenhum dos quatro saiu em defesa de Bolsonaro.