Por Jorge Alemán
Uma das principais características da mobilização de 24 de janeiro é sua condição de inapropriável. Apesar de ter sido provocada pela greve da CGT e outras forças sociais e políticas, a marcha não teve um Dono. Foi uma presença popular que articula um desejo de mudança que ainda precisa ser interpretado politicamente.
O desafio nesses casos é que um mal-estar que ainda não tem limites precisos, daí seu caráter inapropriável, e que ainda não atingiu sua máxima intensidade, não conduza a um efeito “joker”, uma explosão indiscriminada que pode ser preparada se, com o passar dos dias, não emergir a liderança da mesma.
Esta liderança não implica necessariamente a emergência de uma liderança ou de uma única força política, mas sim pelo menos de uma direção colegiada fiel ao que foi expresso nas vozes da mobilização.
Um vasto setor da população não só não suporta mais o dilúvio de injustiças que se abateu sobre eles, mas também percebe com total clareza que a própria Nação pode naufragar com o experimento que se exibe diante de todo o mundo. Não é apenas injusto e doloroso, mas pode levar ao ingovernável e suas terríveis consequências.
Por isso, trata-se de assumir a mobilização de 24 de janeiro como uma novidade, como algo diferente que merece novas leituras e nov@s protagonistas. Não se trata de nomes novos, mas sim de novas posições que vão preparando com tempo, astúcia, paciência e sabedoria a passagem do mal-estar inapropriável a um novo projeto político que, recuperando o melhor do nacional e popular, encontre novos acentos, pontuações, palavras, discursos que se abram a um lugar verdadeiro.
*Publicado originalmente no Página 12.