Cobra criada, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, volta e meia parece deixar Jair Bolsonaro se sentir o dono do partido. Com sua benção, o ex-presidente escolheu o candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro e deve indicar um vice para o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição. Delegar tais tarefas não parece um sacrifício a Valdemar, que acolheu o bolsonarismo e, em troca, viu o PL se tornar a maior bancada na Câmara dos Deputados.
Mas, se Bolsonaro não faz nenhum tipo de concessão ao presidente Lula (PT), reservando-lhe apenas críticas e injúrias, Valdemar tem sido só elogios ao petista. Num vídeo editado que viralizou nos últimos dias, ele chama Lula de “camarada do povo, completamente diferente”. Segundo o dirigente do PL, “o Lula tem prestígio, popularidade. Ele é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro não. O Bolsonaro teve um mandato só”.
Se Valdemar tivesse parado por aí, os bolsonaristas já teriam munição o bastante para execrá-lo. Mas houve mais adulação. Na sexta-feira (12), logo após a indicação do ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, Valdemar enalteceu quem indicou e quem foi indicado.
Sob mais ataques, o dirigente foi questionado pela Folha a respeito da reação do bolsonarismo – e dobrou a aposta. “Ninguém pode negar que ele foi bom presidente. Ele elegeu a Dilma (Rousseff), disse Valdemar. “Tivemos o vice do Lula, José Alencar, que era de direita. Participamos do governo. Como é que vou falar mal do Lula? Se eu falar, não sou um cara sério.”
É claro que depoimentos são editados – na imprensa e (ainda mais) nas redes sociais. Quem deu publicidade ao primeiro vídeo o ajustou para excluir as menções – também elogiosas – de Valdemar a Bolsonaro. Entre uma e outra loa a Lula, o dono do PL foi atacado pelo ex-presidente por sua “declaração absurda”.
“Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem. Se continuar assim, vai implodir o partido”, afirmou Bolsonaro a um punhado de apoiadores no Rio de Janeiro, visivelmente irritado com o flerte do PL ao atual presidente. O partido não implodiu e, de resto, Valdemar voltou a elogiar Lula.
Pior: não foi o único no PL. Isso porque o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PT), também respaldou a atuação solidária de Lula ao estado, que sofre com os impactos de fortes chuvas.
“No momento de crise, pouco importa o lado político. Vejo como natural Lula ter procurado o Paes primeiro – mas ele não deixou de me ligar quando eu o procurei”, declarou Castro à CNN Brasil. “Um político experiente não faria nada contra o povo para me atingir, ainda mais pela grandeza do cargo. Eu não ataco (Lula), não sou inimigo dele, nunca fomos.”
Em meio às divergências, o PL quer aproveitar seu gigantesco fundo partidário para turbinar o total de prefeitos eleitos em 2024. A exemplo de Castro, muitos prefeitos que buscarão a reeleição não querem ser inimigos de Lula. Parte da bancada do PL na Câmara também quer paz com o Planalto e chega até a votar em projetos do governo. Sem um partido para chamar de seu, resta a Bolsonaro choramingar.
* Vermelho