O procurador-geral da República, Paulo Gonet, demitiu um funcionário da PGR (Procuradoria-Geral da República) que disseminou notícias falsas e mensagens de teor golpista contra o STF (Supremo Tribunal Federal) pelo WhatsApp. Esse funcionário, Antônio Rios Palhares, foi citado em um relatório da Polícia Federal enviado ao STF, informa o colunista Aguirre Talento, do portal UOL.…
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, demitiu um funcionário da PGR (Procuradoria-Geral da República) que disseminou notícias falsas e mensagens de teor golpista contra o STF (Supremo Tribunal Federal) pelo WhatsApp. Esse funcionário, Antônio Rios Palhares, foi citado em um relatório da Polícia Federal enviado ao STF, informa o colunista Aguirre Talento, do portal UOL.
Funcionário comissionado, Palhares era um quadro externo do Ministério Público e havia chegado à PGR em 2020, por ser bolsonarista e aliado do antecessor de Gonet, Augusto Aras. Conhecido como Niko Palhares, ele foi um automobilista nos anos 1980 e 1990, tendo competido em categorias como a Fórmula Ford e Fórmula 3.
A exoneração foi publicada em Diário Oficial na semana passada. Palhares tinha cargo comissionado ligado à chefia de gabinete da PGR, mas exercia suas funções na Secretaria de Segurança Institucional. Sua remuneração era de R$ 5,2 mil.
A Polícia Federal descreveu as mensagens de Palhares em relatórios produzidos na investigação das milícias digitais. Ao analisar o telefone celular do dono da Tecnisa, Meyer Nigri, a PF encontrou diversos diálogos entre os dois com teor golpista. Nigri foi alvo de busca e apreensão por sua participação em um grupo de empresários que discutia teses golpistas.
Palhares foi responsável por intermediar encontros de Meyer Nigri com integrantes da PGR, de acordo com os relatórios da PF. Também ofereceu um carro da PGR para transportar o empresário quando estivesse em Brasília.
“A investigação também identificou a atuação direta de Meyer Nigri na divulgação de conteúdos demonstradamente falsos, os quais, conforme mensagens expostas ao longo do relatório, seriam sequencialmente difundidas por Niko Palhares, servidor comissionado da Procuradoria-Geral da República”, aponta relatório da PF.
A PF também encontrou mensagens de Aras a Meyer Nigri nas quais ele dizia que iria barrar um pedido de investigação contra o empresário.
As mensagens do assessor da PGR
Uma das mensagens enviada por Niko Palhares a Meyer Nigri, em 28 de abril de 2022, comentava uma tentativa de encontro entre ministros do STF e o então presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2021. Essa reunião, entretanto, foi cancelada por causa dos ataques de Bolsonaro ao Judiciário. Niko Palhares, na mensagem, dizia que apenas uma ação das Forças Armadas poderia enquadrar o STF.
- “Quando mexeram com o Exército, e os generais responderam à altura, vejam o sabão que deram. Vão ver como a coisa vai mudar, só quem pode colocar o STF no seu [lugar] segundo a Constituição são as Forças Armadas”, escreveu o assessor da PGR, em mensagem a Meyer Nigri.
- Em seguida, ele encaminhou ao empresário um vídeo que mostrava uma entrevista do ministro do STF Luiz Fux sobre a tentativa de encontro com Bolsonaro em agosto de 2021. O vídeo se encerrava com a legenda: “Foi só os militares baterem os coturnos mais forte e o presidente do STF Luiz Fux foi pedir ‘penico’ a Bolsonaro”.
- Ao analisar o conteúdo, a PF afirma que “a mensagem escrita e o vídeo passaram, de forma falsa, a mensagem de que as Forças Armadas teriam intimidado o STF”.
Disseminação de fake news
A PF detectou que Niko Palhares mantinha um grupo de WhatsApp de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e pediu a Meyer Nigri que lhe encaminhasse as mensagens enviadas por Bolsonaro, para que repassasse a seus contatos.
Em um dos diálogos interceptados, Meyer Nigri afirmou a Niko Palhares que iria lhe repassar vídeos recebidos de Bolsonaro. O funcionário da PGR respondeu que iria disseminar o conteúdo para o grupo de WhatsApp de apoio a Bolsonaro e outros contatos:
Niko Palhares também pediu a Meyer Nigri que lhe indicasse para um posto de trabalho na campanha eleitoral de Bolsonaro à reeleição.
“Seu Meyer, o senhor é meu irmão de coração, cara. Gosta do senhor desde o dia que eu te conheci, certo? Eu me emociono. Mas eu preciso trabalhar para o presidente. Eu não quero ficar na PGR tomando conta de agente e resolver problema de Aras, entendeu? Não quero. Eu quero estar com o presidente, eu quero trabalhar e mostrar o meu trabalho e depois num futuro, é outro mundo. Se não quiser me dar nada, não quero. Se quiser me dar alguma coisa, me dê, entendeu? Pronto, eu quero é trabalhar, trabalhar para a gente ganhar”, disse Niko Palhares, em áudio enviado a Nigri em 15/8/2022, obtido pela PF.
Outro lado
Procurado, Niko Palhares afirmou que não iria comentar o assunto. “Melhor ficar calado, isso ocorre sempre que há mudanças”, disse, sem dar maiores detalhes.
A defesa de Meyer Nigri afirmou que ele foi inquirido pela PF sobre os diálogos com Palhares e disse, na ocasião, que o empresário recebia inúmeras mensagens e “não deu maior atenção” às do funcionário da PGR. “Meyer explicou que não tinha nenhum relacionamento com tal pessoa”, disse o advogado Alberto Toron.