Neste Natal, os sinos não tocam em Belém onde nasceu Jesus

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O horror da guerra, de todas as guerras

“Somos todos culpados” significa: ninguém é culpado. “Não em meu nome” significa: me tire fora dessa. “O inferno são os outros” significa: estamos condenados a ser livres, mas não somos nada antes de tomar qualquer decisão.

Este ano, o Natal não será celebrado em Belém, cidade onde a tradição cristã acredita que nasceu Jesus. É também a terra natal do rei Davi, e o local onde ele foi coroado rei de Israel. Atualmente, Israel controla as entradas e saídas de Belém.

Encravada na Cisjordânia, território palestino, Belém fica a pouca distância da Faixa de Gaza, onde vivem 2,3 milhões de palestinos, ou melhor: viviam até 7 de outubro último, quando o grupo Hamas, que governa a Faixa, invadiu Israel.

O Hamas matou 1.200 pessoas e sequestrou cerca de 220. Para vingar-se, Israel invadiu a Faixa de Gaza e matou pouco mais de 20 mil palestinos até agora. Todos os dias, Israel promete só parar com a guerra depois que destruir o Hamas.

Enquanto não consegue, bombardeia o enclave com toda sorte de bombas pesadas e sem direção, mísseis e tiros de tanque. É o Exército mais poderoso do Oriente Médio, armado pelos Estados Unidos contra uma população desarmada.

Uma população que não tem para onde fugir porque nem Israel e os países árabes lhe oferecem abrigo. Orientada por Israel, parte dela abandonou o Norte da Faixa para escapar dos bombardeios que reduziram Gaza a escombros.

Então, Israel passou a atacar o Sul sob pretexto de que para ali também escaparam os líderes do Hamas. Mulheres e crianças somam 70% dos mortos e feridos na Faixa de Gaza, hoje o lugar mais perigoso do mundo para quem tenta sobreviver.

Dizer que “somos todos culpados” é a mesma coisa que dizer que ninguém é. Israel é o principal culpado por não existir um Estado Palestino. Só por isso, o Hamas venceu as eleições e governa a Faixa de Gaza – ou melhor: governava.

Se o Hamas, um dia, desaparecer, outro grupo surgirá para defender as mesmas ideias. Israel, em 2006, imaginou ter acabado com o Hezbollah, uma organização fundamentalista islâmica xiita sustentada pelo Irã.

O Hezbollah está mais forte, como o Hamas ou seu substituto também ficarão. Ideias com aderência social não morrem. Pesquisas aplicadas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia atestam que o apoio ao Hamas só fez crescer desde outubro.

Dizer “não em meu nome” é a mesma coisa que dizer a Israel que faça o que achar que deve, “mas eu lavo as minhas mãos”. Por mais que lave, elas continuarão sujas. Nada somos até tomarmos uma decisão. À falta de uma, somos cúmplices.

*Bernardo Mello Franco/O globo

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