O que se assiste como um recuo do candidato histriônico na política prática, já foi percebido pelos argentinos. Mas muito estrago ainda deve ser feito.
Uma parte do discurso de campanha de Javier Milei foi inflado e os argentinos sabiam disso, ao votarem massivamente 56% dos eleitores no candidato polêmico. Seja como parte do tom incendiário já conhecido por outras figuras da ultradireita mundial, seja pela inviabilidade de determinadas posições declamadas.
“Assim como Bolsonaro não conseguiu fazer o golpe no Brasil, Milei não vai fazer tudo o que diz na Argentina”, foi o comentário de uma cidadã que entregou seu voto ao candidato no último 19 de novembro.
“Assim como Bolsonaro não conseguiu fazer o golpe no Brasil, Milei não vai fazer tudo o que diz na Argentina”, foi o comentário de uma cidadã que entregou seu voto ao candidato no último 19 de novembro.
Essa descrença dos argentinos que não se identificam com as pautas da ultradireita, mas que votaram no candidato, e que aos poucos se confirmam para algumas promessas de campanha esvaziadas, foi também expressada por especialistas ouvidos pelo GGN.
Como o historiador argentino Osvaldo Coggiola, em participação no Onze News, que foi ao ar nesta segunda-feira (27): “A Argentina não vai romper relações com o Brasil e com a China. Obviamente é uma loucura [esse discurso de Milei], argumentando que tanto o Brasil, quanto a China, são países governados por comunistas e que ele não quer ter relações com países comunistas.”
“É um pouco o discurso que já ouvimos no Brasil no caso de Bolsonaro. Ele ameaçava romper relações com a China e afirmava o tempo todo que a China não era um parceiro adequado para o Brasil, por ser governado por comunista. Depois, não aconteceu nada disso. O Brasil não rompeu relações com a China, e a Argentina não vai romper relações com a China, nem com o Brasil”, assegurou.
“Efetivamente, o que se colocou imediatamente depois da vitória eleitoral de Milei foi [um investimento] da governabilidade. A governabilidade tem duas pontas, a governabilidade em missão com praticamente todos os partidos políticos argentinos, excluída a esquerda, mas não se descarta que a esquerda seja incorporada – porque Milei até levantou essa possibilidade. E no plano externo quando normaliza, de algum modo, as relações com os principais parceiros da Argentina: a China, o Brasil e, obviamente, em primeiríssimo lugar, os Estados Unidos.”
*GGN