Não passou nem uma semana para que a Argentina de Javier Milei não apenas sinalizasse como tomasse providências em direção a uma reaproximação com o Brasil.
Depois de chamar Lula de “comunista” e “corrupto” e de ameaçar romper relações com o Brasil, o presidente eleito da Argentina apressou-se em caminhar sobre suas pegadas. Correu para enviar a Brasília, em meio a um domingo, a economista Diana Mondino, indicada a chanceler do país vizinho.
Não é apenas Milei quem parece recuar desajeitadamente. A própria Mondino, há apenas cinco dias, declarara que a gestão de Milei iria “parar de interagir com os governos do Brasil e da China”.
Eis que na velocidade de um raio, não apenas a provável chanceler bate às portas do Itamaraty, cumprimenta efusivamente o ministro do Exterior do Brasil, Mauro Vieira, como traz consigo uma carta pessoal do ultradireitista Milei endereçada ao presidente Lula, convidando-o para a posse, em 10 de dezembro, segundo o 247.
Milei não faz questão de esconder que seu preferido é Jair Bolsonaro, com quem confraternizar após sua vitória e a quem convidou de público para a posse.
Do lado de Lula, o que importa, mais do que a retórica ou as cerimônias, são as relações entre os dois países. Será necessário, portanto, que o lado do presidente eleito argentino, que parece desorientado, reassegure sua contraparte brasileira de que as hostilidades gratuitas serão suspensas. A despeito do histrionismo do neofascista escolhido na Argentina, ambos os países precisam se aproximar ainda mais em termos econômicos dada a relevância mútua dos fluxos de comércio e a complementaridade das duas economias. Exemplo disso é o advento de importante encontro entre a Associação Industrial Argentina e a Confederação Industrial Brasileira ou a necessidade de decidir uma posição comum na iminência da decisão do acordo de comércio entre o Mercosul e a União Europeia, cuja conclusão, após décadas de idas e vindas, parece iminente, mas pode ser inviabilizada por um veto ou mesmo uma indefinição argentina.
O tom do convite de Milei a Lula parece repor as relações num nível adequado. Resta saber se o volúvel presidente eleito da Argentina será capaz de manter coerência com a nova atitude que exibe. As boas relações entre Brasil e Argentina dependem a partir de agora do novo ocupante da Casa Rosada.