Irritados com postura adotada pelo governador, grupo informal, que pode chegar a 12 integrantes, promete dificultar votação de projetos importantes.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), terá de conviver com um novo foco de atritos em potencial na Assembleia Legislativa do estado (Alesp), onde ele já encontra resistências. Depois de o ex-presidente Jair Bolsonaro dizer que “não está tudo certo” na relação entre eles e que o aliado “dá suas escorregadas”, deputados estaduais bolsonaristas anunciaram a formação de um bloco informal que tende a dificultar a tramitação de algumas pautas defendidas pelo Palácio dos Bandeirantes.
A movimentação dos parlamentares irritou o entorno de Tarcísio, que agiu imediatamente para apagar o fogo amigo. O grupo, formado por cinco integrantes, com expectativa de chegar a 12, já se reuniu duas vezes e deve fragilizar o governador na Alesp, pois promete agir com independência.
Entraves pela frente
Tarcísio tem enfrentado dificuldades nas últimas semanas para votar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do ICMS Ambiental. E tem pela frente seu maior desafio na assembleia: a privatização da Sabesp, a estatal de saneamento básico.
Os parlamentares já avaliam votar contra uma proposta do Executivo: o aumento do ICMS, que foi o estopim para a criação do bloco. Até agora, esses bolsonaristas votaram com o governo em todas as matérias.
— O estopim para oficialização do bloco é a notícia do envio de um projeto que aumenta ICMS no estado de São Paulo. São parlamentares que apoiam o governador e defendem seu governo, mas que não se omitem em matérias que entendem ser importantes. Vamos nos reunir com frequência para deliberar sobre a posição do bloco e a maneira como vamos votar projeto a projeto — diz Gil Diniz, um dos integrantes do grupo, ao lado de Lucas Bove, Major Mecca, Tenente Coimbra e Paulo Mansur, todos do PL.
O mal-estar entre o governador e os bolsonaristas é mais extenso. O apoio de Tarcísio à reforma tributária do governo Lula e a fala dele, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre concordar com “95% do texto”, é um episódio ainda não superado pelos aliados, em especial pelo ex-presidente Bolsonaro, que viu “traição” por parte de seu ex-ministro de infraestrutura, diz O Globo.
O feriado da Consciência Negra foi outro divisor de águas. Nele, o governador sancionou a lei que torna o dia um feriado estadual, texto de autoria do deputado Teonilio Barba (PT); recebeu a viúva de Nelson Mandela no Palácio dos Bandeirantes; anunciou a doação de um terreno no Centro de São Paulo para a construção de um campus da Universidade Zumbi dos Palmares; e chamou de “avanço” a política de cotas. Tudo isso foi rechaçado pelos bolsonaristas, que entendem as atitudes do governador como ligadas ao campo da esquerda.
Além do descolamento com as pautas ideológicas, deputados e pessoas próximas ao ex-presidente falam em “desprestígio” com o bolsonarismo na gestão estadual. O PL, partido de Bolsonaro que tem a maior base na Alesp, só tem uma secretaria.
Contra indicações
De acordo com interlocutores, o governador, e em especial o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, resistem a aceitar indicações no quarto e quinto escalões, especialmente em áreas como Segurança Pública e Educação.
As movimentações no âmbito eleitoral também geram rusgas, sobretudo na capital, onde o governador quer apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e parte dos bolsonaristas defende o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP). Em Santos, Tarcísio apoia o prefeito Rogério Santos. O PL quer a deputada federal Rosana Valle, que participou recentemente de um evento ao lado de Bolsonaro.