O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira que as instituições internacionais perderam a “efetividade e credibilidade” e que a “falência” dessas entidades está evidenciada pelas “tragédias humanitárias” atuais.
O presidente participou pela manhã da cúpula virtual “Vozes do Sul Global”, a convite do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, junto com outros 125 países.
Em seu discurso, Lula voltou a criticar o Conselho de Segurança da ONU, e afirmou que o Brasil trabalhou “incansavelmente pela paz”, mas que as soluções foram “reiteradamente frustradas pelo direito de veto”. Lula disse ainda que é preciso “resgatar a confiança no multilateralismo”.
— As tragédias humanitárias a que estamos assistindo evidenciam a falência das instituições internacionais. Por não refletirem a realidade atual, elas perderam efetividade e credibilidade. Em seu mandato no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tem trabalhado incansavelmente pela paz. Mas as soluções são reiteradamente frustradas pelo direito de veto. Precisamos resgatar a confiança no multilateralismo.
Sem citar o conflito entre Israel e Hamas ou a guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula afirmou que é preciso “recuperar nossas melhores tradições humanistas” e que “nada justifica que as principais vítimas dos conflitos sejam mulheres e crianças”.
O presidente afirmou ainda que é preciso “restituir a primazia do direito internacional, inclusive o humanitário”.
— Precisamos recuperar nossas melhores tradições humanistas. Nada justifica que as principais vítimas dos conflitos sejam mulheres e crianças. É preciso restituir a primazia do direito internacional, inclusive o humanitário, que valha igualmente para todos, sem padrões duplos ou medidas unilaterais.
Lula tem feito reiteradas críticas ao formato de funcionamento do Conselho de Segurança da ONU. Durante a presidência do Brasil no órgão, o país apresentou uma resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas que pedia, entre outros pontos, a criação de um corredor de ajuda humanitária para Gaza. A proposta foi vetada pelos Estados Unidos.
Na terça-feira, Lula voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança e o fim do poder de veto.
— A ONU precisa mudar. A ONU de 1945 não vale mais nada em 2023. É por isso que a gente quer mudar a quantidade de pessoas e o funcionamento e acabar com o direito de veto — disse durante uma live.
Nesta semana, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a primeira resolução defendendo a libertação imediata de todos os reféns mantidos pelo Hamas e também a implementação de um regime de “pausas humanitárias” na Faixa de Gaza, mas Israel rejeitou a medida.
Lula também intensificou nos últimos dias as críticas à violência cometida por Israel contra o povo palestino e já afirmou que o Estado “também está cometendo um ato de terrorismo”. O Brasil cobra uma posição da comunidade internacional em relação ao que o governo classifica como “atrocidades cometidas durante a reação de Israel”.
Auxiliares do presidente dizem que, ao condenar os ataques de Israel, Lula busca conter a tragédia humanitária que está ocorrendo agora. São citados o cerco de tropas militares a hospitais, a morte de recém-nascidos e o fato de os moradores da Faixa de Gaza estarem sem acesso a água, comida e energia.
A justificativa é que o tom do presidente subiu porque a situação piorou, a um ponto considerado intolerável. Membros do governo destacam que o país nunca deixou de condenar os ataques do Hamas em 7 de outubro, que deixaram cerca de 1.200 mortos em Israel.