Dedos na cara e gritaria. Esse foi o saldo de um encontro na sede do PDT no Rio de Janeiro que gerou uma confusão generalizada envolvendo os irmãos Ciro Gomes, candidato à Presidência no ano passado, e Cid Gomes, senador pelo Ceará — dois dos principais nomes do partido.
Segundo relatos de pessoas presentes, em dado momento do evento os dois se levantaram da cadeira e iniciaram uma discussão aos gritos, com direito a dedo na cara.
O eixo central da desavença gira em torno do diretório estadual da sigla no Ceará, que chegou a ser presidido por Cid até uma decisão judicial decorrente de um movimento do grupo político do irmão.
Nesta sexta-feira (27), depois do entrevero familiar público, a Executiva Nacional do PDT aprovou uma intervenção na unidade cearense, formalizando o afastamento do senador do comando local. Agora, é preciso que uma nova direção seja nomeada.
— Sem nenhum motivo intervieram no diretório estadual, para você ver o absurdo a que se chegou no diretório Nacional. Eu vou procurar reunir as pessoas e informar o que aconteceu — lamentou Cid ao fim do encontro, acrescentando que pretende “debater soluções conjuntas” antes de cogitar deixar a legenda, diz O Globo.
Mais cedo, o tumulto entre os dois irmãos aumentou quando aliados de cada um deles entraram no debate. De acordo com testemunhas, por pouco os envolvidos na briga não chegaram às vias de fato.
Os embates entre as alas simpáticas a Ciro e Cid dominaram quase todo o encontro, que reuniu os presidentes das seções estaduais no primeiro andar da sede do PDT, no Centro do Rio. Do térreo, era possível ouvir as vozes dos irmãos discutindo.
Antes da reunião, os irmãos almoçaram em locais distintos com seus respectivos grupos, também no Centro do Rio. Embora tenham chegado ao local quase no mesmo momento, Ciro e Cid sequer se cumprimentaram. Mais tarde, integrantes do partido participarão de um jantar na casa do deputado federal Mário Heringer (PDT-MG).
— Não há perspectiva de resolução, as duas alas têm argumentos muito fortes e ainda não conseguimos conciliar os interesses — admitiu Heringer, ainda durante a reunião, pontuando que conta com o evento do qual será anfitrião “para acalmar os ânimos”.
Abatido, Ciro deixou o encontro antes do término. Ao jornal, ele admitiu os problemas com Cid Gomes:
— A reunião foi muito ruim, e o clima com meu irmão é o pior possível.
Aliado de Ciro, o presidente nacional do PDT, deputado federal André Figueiredo, também do Ceará, afirmou que não há chance de reaproximação com o grupo de Cid:
— Sem qualquer possibilidade de solução pacífica no Ceará, porque existe, evidentemente, um grupo de pessoas que o senador Cid representa e que acha que, por serem majoritários em termos de deputados estaduais e federais, podem mandar e submeter todos os outros aos seus ditames. O PDT tem uma história de coerência, de defesa de seus princípios e nunca se entregou a quem está no poder.
O encontro no Rio ocorreu após uma queda de braço travada entre André Figueiredo e o senador Cid Gomes. Com o aval de Ciro, Figueiredo destituiu a Executiva do Ceará, que acabou reestabelecida via liminar.
Após a retomada, Cid convocou novas eleições locais e foi eleito presidente estadual. Horas depois, contudo, com outro acionamento judicial, o grupo de Ciro Gomes o retirou do posto, e o comando cearense voltou às mãos de Figueiredo.
As divergências entre os grupos do senador e do ex-presidenciável ocorrem desde o ano passado e circundam o mesmo tema: o apoio ao PT. Assim como fez no segundo turno das eleições, a ala de Cid defende que o partido retome a aliança e seja base do governador Elmano de Freitas, enquanto os ciristas preferem que a sigla fique na oposição.
Na mesma toada, o pleito em Fortaleza no ano que vem representa um ponto de dissonância entre voltar a compor com o PT, com quem o PDT se aliou por mais de 20 anos, ou montar uma chapa puro-sangue. O atual prefeito, Sarto, é pedetista, mas não agrada ao grupo de Cid — que, recentemente, liberou o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, para se desfiliar da sigla e concorrer contra seu correligionário.