O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) recebeu o prêmio Pacto Contra Fome, entregue pelas Nações Unidas (ONU) pela iniciativa Mãos Solidárias, campanha de doação de alimentos criada durante a pandemia, em Recife (PE).
A premiação é organizada por duas agências da ONU: para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e para Alimentação e Agricultura (FAO). E a cerimônia foi realizada em São Paulo (SP), com o prêmio entregue a Paulo Mansan, um dos idealizadores da ação e membro da coordenação nacional do MST, ao lado de Fabíola Amaro, integrante do MST e da coordenação do projeto.
A ações beneficiaram famílias vulneráveis nas cidades Recife, Olinda, Caruaru, Garanhuns, Vitória de Santo Antão, Petrolina, entre outras. Apenas na região Metropolitana do Recife, o Mãos Solidárias entregou cerca de 1,6 milhão de marmitas nos últimos três anos.
As ações se iniciaram logo na primeira semana de medidas restritivas de circulação impostas pela pandemia da Covid-19, atendendo em princípio as famílias em situação de rua. Aos poucos, dezenas de marmitas se tornaram milhares, em um trabalho diário feito por militantes e voluntários.
“No início da pandemia, com o lockdown, aqui em Pernambuco, dentro do Armazém do Campo do Recife, a gente criou algo chamado Marmita Solidária, que nós poderíamos dizer que foi o primórdio de tudo. Nos arriscamos dizer, inclusive, de toda a solidariedade nesse período pandêmico do Brasil, não só do MST, mas de várias outras organizações”, afirmou Paulo Mansan.
Programa Nacional Cozinhas Solidárias
Aos poucos a iniciativa avançou na criação de cozinhas solidárias, bancos de alimentos, hortas comunitárias, farmácias vivas, entre outras ações no combate à fome e ao coronavírus; foram formados mais de 1500 Agentes Populares de Saúde nas comunidades periféricas urbanas e rurais.
Após a pandemia, as atividades da campanha continuaram para a estruturação da organização popular no combate à fome e à insegurança alimentar.
Neste ano, a iniciativa das cozinhas do Mãos Solidárias se tornou política pública, a partir da criação do Plano Nacional Cozinhas Solidárias, que foi integrado ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em julho.
Na última semana, durante a celebração dos 20 anos do PAA, houve a liberação de R$30 milhões para fomento para o Programa das Cozinhas Solidárias, destinados para apoiar as experiências em nível nacional.
“A gente recebeu com muita alegria que as Cozinhas Solidárias se tornaram lei, por conta da iniciativa do deputado federal Guilherme Boulos. Nesse processo fizemos muitas trocas, ajudamos com as cozinhas do MTST também aqui em Pernambuco. Eles têm duas [em Pernambuco], então todo mundo se ajuda. É um grande mutirão de solidariedade e a lei agora do PAA vai potencializar isso”, explica Mansan.
Apesar da liberação da verba, ainda não houve o lançamento oficial do programa.
“A expectativa é nós fazermos o lançamento desse programa, agora, no PAA para as Cozinhas, inclusive há um indicativo de fazer nesse início do mês de novembro de 2023”, conta Paulo Mansan sobre as expectativas de início ao programa.
Fabíola Amaro, militante do MST em Pernambuco e coordenadora da campanha Mãos Solidárias diz que o MST, a partir de sua história e trajetória, sempre tentou dialogar com a sociedade, principalmente na periferia, onde está a maior parte da população.
Segundo Fabíola, a partir desse diálogo começaram a surgir outras iniciativas, “porque não é só doar por doar, a gente queria realmente ajudar essa população”.
“Então, foram as marmitas, depois os Agentes Populares de Saúde, que adentraram as comunidades levando minimamente orientações de como se proteger do vírus, de como cada um poderia ajudar”, explica. Depois vieram os bancos de alimentos, quando surgiram as doações dos acampamentos e assentamentos do MST.
Hoje, as são 14 cozinhas solidárias do MST na região Metropolitana do Recife e em outros municípios.
O Mãos Solidárias é uma iniciativa com o apoio de várias entidades. “A FioCruz, por exemplo, tem essa parceria com a gente a partir dos Agentes Populares de Saúde. E essas doações só foram possíveis a partir dessas parcerias. E no geral a população também nos ajudou muito para que a gente pudesse distribuir esses alimentos para a população em vulnerabilidade”, diz Fabíola.
Ela se orgulha do projeto. “Recebemos esse prêmio do Pacto Contra a Fome, que realmente é um pacto, que deu visibilidade ao MST, em meio a 300 outras iniciativas e só passaram seis, reconhecendo esse trabalho que foi feito no estado todo. Foi muito bonito, encontramos esse povo todo que constrói um mundo melhor”.
Com assessoria de imprensa do MST