Auxiliares próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que existe a possibilidade de que a escolha do novo ministro Supremo Tribunal Federal (STF) seja adiada para 2024.
Um dos motivos apontados seria a conjuntura de conflagração entre STF e o Congresso, além de críticas sobre o ministro da Justiça, Flávio Dino, que até alguns dias atrás era o favorito para a nomeação. Citam ainda, segundo a colunista Vera Magalhães, do Globo, o risco de motim do Senado com sabatinas, o pacote de indicações que Lula tem de fazer nos próximos meses e a crise da segurança pública são fatores listados para um intervalo mais longo, que seria uma medida de cautela por parte do presidente.
Além disso, lembram esses interlocutores, Lula fez a cirurgia no quadril e, desde então, deixou de tratar sobre a indicação para o STF. A última vez que ele tratou do assunto mais detidamente com auxiliares foi no dia da posse de Luís Roberto Barroso na presidência do Supremo. Desde então, tem estado recluso para se recuperar, diz o Agenda do Poder.
Os fatores que envolvem Dino são alguns dos mais delicados. De fato, o titular da Justiça passou a ser mencionado por Lula como favorito à vaga. Isso se deu depois de um jantar em que o presidente ficou satisfeito com o fato de o ministro contar com apoio entusiasmado de Gilmar Mendes e de Alexandre de Moraes.
Desde então, o fogo contra Dino de praticamente todos os partidos que integram a base, inclusive do PT, e também da oposição, só aumentou. Além do temor de que o ministro usasse a cadeira do STF para depois voltar à política, passaram a soprar no ouvido de Lula a análise de que, dado seu perfil explosivo e brigão, ele acabaria por influenciar no confronto com o Congresso, que está em um momento delicado.
Sua defesa de pautas progressistas, em linha com o novo presidente do tribunal, Barroso, também passou a ser elencada como fator a recomendar que Lula reveja a preferência por Dino.
Diante desse cenário, voltaram a se manifestar defensores da escolha do presidente do TCU, Bruno Dantas, que goza de excelente relação com senadores de todas as bancadas e com ministros do STF. Em conversa recente, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, teria dito que a sabatina de Dantas na CCJ seria “um desfile”, enquanto a de Dino seria marcada por choques com senadores.
A dificuldade de encontrar um substituto para a Justiça e a incerteza de Lula quanto a dividir ou não a pasta, criando a da Segurança Pública, também travam a decisão. O presidente acha que se ficar caracterizado o fracasso de seu governo na segurança e o avanço do crime organizado, isso pode ser um fator para a direita voltar ao poder. A ausência de projeto bem-sucedido na esquerda na área preocupa Lula, que não quer dar a nova pasta ao PT – que está em campanha pela ocupação.
O pacote de indicações na mesa do presidente também deve ter precedência sobre a indicação para o lugar de Rosa Weber. Além da procuradoria-geral da República, Lula tem de preencher quatro cadeiras no Cade, sob pena de o órgão que regula a concorrência parar por falta de quórum. Outras agências também têm cadeiras por vagar em breve, e é grande a pressão sobretudo de senadores por serem ouvidos nas escolhas.