Não é de hoje que o Estadão é conhecido por seus editoriais reacionários e de manutenção do status quo. Ao longo de sua história, o jornal sempre ficou do lado de grupos privilegiados e na defesa de pautas liberais, tanto no campo da economia quanto na política. E um ponto forte dos editoriais do veículo é o velho e bom moralismo.
Mas desta vez, o Estadão decidiu ter um lapso de realismo e criticou duramente o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Como sabemos, Lira pressiona o governo Lula na sua sanha de emplacar aliados para cargos estratégicos como a presidência da Caixa Ecônomica Federal.
Nas palavras do editorial publicado nesta sexta-feira, 29, “nada parece saciar a voracidade do Centrão por sinecuras. Isso seria um problema exclusivo de Lula, não fosse o fato de que a chantagem de um grupo de parlamentares prejudica todo o país”.
De fato a fome do Centrão sempre foi insaciável, é muito pote para pouco mel, mas é interessante como apesar da crítica ao grupo chefiado por Lira, o Estadão tenta jogar um pouco da responsabilidade para Lula, que apesar de toda pressão nos bastidores tem feito um governo que até o momento vem mostrando resultados positivos.
O texto prossegue e vou encerrar com as próprias palavras do editorial:
“Uma pergunta se impõe: o que afinal saciará a voracidade do Centrão, em particular do grupo chefiado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por cargos e recursos públicos? Qual seria esse ponto de equilíbrio em que a mágica acontece, isto é, o que ainda precisa ser entregue aos glutões da República para que estes se deem por atendidos em suas exigências, nem sempre inspiradas pelo melhor interesse público?”, questiona.
“O País agora parece ter entrado de vez no presidencialismo do esbregue, em que o governo é chantageado à luz do dia, sem qualquer constrangimento e com um grau de agressividade típico das máfias. Isso obviamente nada tem a ver com política. É extorsão”, prossegue.
“Lula (ou qualquer outro presidente) pode criar dezenas de Ministérios e escancarar porteiras em apetitosas autarquias, mas nada disso parece suficiente para essa turma – que, na hora do voto, nem lembra que é base do governo”, finaliza.