Luis Nassif*
Não é pouco o que está em jogo: é todo o esforço do sistema de Justiça de voltar aos trilhos da institucionalidade
Pelos indícios, até agora, a aguardada correição do Ministro Luis Felipe Salomão, junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, terminará em uma enorme pizza.
Para contentar os legalistas, punirá a juíza Gabriela Hardt, peixe miúdo; para agradar os lavajatistas, entregará o pescoço do juiz Eduardo Appio. E poderá deixar impune o mais grave dos crimes: o de um desembargador federal, Marcelo Malucelli, desrespeitando em bate-pronto uma decisão do Supremo Tribunal Federal, em uma ação em que havia interesse direto dele e de familiares.
É só uma suspeita reforçada por 6 meses sem informações, mas que, se concretizada, significará um final à altura da grande farsa da Lava Jato, a desmoralização final, a comprovação definitiva de que o corporativismo é maior que a legalidade. E Salomão justificará todos aqueles que têm dúvidas sobre sua isenção no alto cargo de corregedor do Conselho Nacional de Justiça, especialmente nas ações que correm na sua área de atuação, o Rio de Janeiro.
Decisão do Ministro Ricardo Lewandowski, de 4 de abril, impedia qualquer juízo ou tribunal de tomar decisões nas ações penais envolvendo o advogado Rodrigo Tacla Duran. A decisão visava impedir o depoimento de Tacla Duran, que poderia comprometer a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro.
Logo após a decisão de Lewandowski, o desembargador Marcelo Malucelli – relator dos processos da Lava Jato -, através do sistema de comunicação interna do TRF4 suspendeu liminarmente decisão da 13a Vara, que revogava a prisão preventiva decretada contra o advogado. Tacla Duran preparava-se para embarcar para o Brasil no dia seguinte.
Para dar mais ênfase, a decisão foi publicada com grande destaque no site do portal da TRF4, o que levou Tacla a suspender a viagem.
Na sequência, o juiz Eduardo Appio solicitou a Malucelli informações urgentes sobre como proceder em relação aos novos mandados de prisão. Não houve resposta. Na solicitação, Malucelli foi alertado que sua decisão representava, em tese, crime de abuso de autoridade.
As notícias estavam em todos os jornais. Malucelli sabia que Tacla Duran estava pronto a prestar depoimento à 13ª Vara Federal, era testemunha protegida pelo programa federal de proteção de testemunhas do governo federal. Sabia-se que seu depoimento implicaria o ex-juiz Sergio Moro e do ex-deputado federal Deltan Dallagnol.
Nada comoveu Malucelli, nem as impressões digitais explícitas, de um filho que trabalhava no escritório de Sérgio Moro e namorava sua filha, além de estar lotado no gabinete do Deputado Estadual, irmão do segundo suplente do Senador Sérgio Moro.
Não é pouca coisa que está em jogo: é todo o esforço do sistema de Justiça de voltar aos trilhos da institucionalidade, recuperando a esperança da opinião pública.
*GGN