Sargento Luis Marcos Reis irá prestar depoimento nesta quinta-feira à comissão parlamentar de inquérito.
Chamado pela CPI do 8 de Janeiro para explicar movimentações financeiras atípicas em sua conta bancária, o segundo-sargento do Exército Luis Marcos Reis, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, já tem uma explicação para dar aos parlamentares, caso decida não recorrer ao direito de ficar em silêncio. O depoimento está marcado para esta quinta-feira. Ao GLOBO, o advogado do militar, Alexandre Vitorino, afirma que seu cliente captava dinheiros com colegas de caserna para fazer investimento e depois dividir os lucros. Ele alega ainda que Reis pagava algumas contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além de ter vendido um carro para o tenente-coronel Mauro Cid, seu chefe direto na época de Palácio do Planalto.
Na comissão, ele será questionado sobre um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou uma movimentação da ordem de R$ 3,3 milhões, conforme revelou O GLOBO. O período analisado pelo órgão foi de fevereiro de 2022 a maio de 2023. O montante se refere a R$ 1,5 milhão no crédito e R$ 1,45 no débito.
— Como sargento do Exército, ele tem uma renumeração de R$ 4 mil a R$ 5 mil. Então, ele tinha essa atividade informal. Pode chamar de bico. Eles se juntam em 15 pessoas. Aí cada um fornece um valor (R$ 10 mil, R$ 15 mil, R$ 20 mil) para a aplicação de juros mais altos. Ele (sargento Reis) me disse que fazia isso com muita habitualidade — afirmou o advogado.
Segundo o defensor, o sargento organizava os investimentos de um grupo de 15 militares que se reuniam para obter rendimentos mais altos do que conseguiriam se aplicassem o dinheiro sozinhos. Ele diz que a atividade era uma espécie de “consórcio informal” entre os colegas de trabalho.
— Nos quarteis, sobretudo entre os praças, é muito comum que os colegas se reúnam e transfiram o dinheiro para um único militar que faz uma aplicação com condições de juros melhores. Depois, esses rendimentos são partilhados de volta entre os integrantes do consórcio — acrescentou.
Ao analisar as movimentações, o Coaf também fez um destaque para um repasse de R$ 72 mil de Reis ao tenente-coronel Mauro Cid em quatro depósitos. Ele era subordinado a Cid na Ajudância de Ordens da Presidência. Os dois estão presos preventivamente desde maio por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Ele é suspeito de participar do suposto esquema de inserção de dados falsos no cartão de vacinação de Cid e seus familiares.
A defesa do militar alega que a transferência do dinheiro se refere à venda de um carro do tenente-coronel vendido pelo sargento.
— Ele tinha uma procuração do Mauro Cid para vender um veículo dele. E repassou o dinheiro para ele — afirmou Vitorino.
A defesa do ex-ajudante de ordens disse ainda que, como parte do seu trabalho, Reis fazia pagamentos de despesas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro — o que também é investigado pela Polícia Federal. Mas refuta as acusações de que ele participou do suposto esquema do desvio de relógios e joias recebidos pela presidência da República por autoridades estrangeiras.
— Apesar de estar na Ajudância de Ordens, ele não tem conexões com os negócios da família Bolsonaro. Ele era um praça que tinha uma hierarquia subalterna, e, não fosse pelo fato de ser amigo do Mauro Cid, talvez nem estaria preso hoje — concluiu o defensor.
Reis também deverá ser questionado sobre as mensagens em que ele diz ter participado dos atos de 8 de janeiro. O material foi apreendido pela PF.
Segundo o advogado, ele foi à Esplanada dos Ministérios naquele dia, se “aproximou” do Congresso Nacional, mas chegou depois da invasão aos prédios públicos.
Segundo a defesa, ele está se sentindo “cansado” com a detenção prolongada em um batalhão do Exército e se vê injustiçado. A quem o visita, ele costuma dizer que realmente era amigo de Mauro Cid, mas não fazia parte do núcleo de confiança do ex-presidente Jair Bolsonaro.