‘Nunca serei de esquerda. Gosto de armas’, disse o hacker em áudio que também escancara investidas golpistas de Bolsonaro
O hacker Walter Delgatti Neto entregou à Polícia Federal (PF) uma série de provas, incluindo áudios, sobre a trama golpista envolvendo o núcleo bolsonarista. De acordo com os indícios, o ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL) estaria chamando o hacker para “configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem”. A ideia era criar uma narrativa falsa de que as urnas eletrônicas não eram seguras, para tentar emplacar ataques contra a democracia.
“Bolsonaro está fazendo questão que eu vá lá (…) eles vão configurar o código-fonte para dar o resultado que eles querem. Eles vão pegar uma urna. Eles mesmos vão fazer isso”, afirma áudio de Delgatti um dia antes de um encontro que ele teve com Bolsonaro e a deputada Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar bolsonarista contratou o hacker com finalidade de tentar fraudar urnas. Contudo, após ele revelar ser impossível, os bolsonaristas tentaram tocar uma narrativa falsa de que, ao digitar o número de Bolsonaro em uma urna, apareceria outro candidato.
A narrativa falsa serviria, supostamente, para o disparo intenso de fake news com objetivo de minar da democracia. Trata-se de uma ampla investigação que envolve inquéritos na Polícia Federal e também é alvo da CPMI dos atos antidemocráticos de bolsonaristas no 8 de janeiro. Agora, a relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), quer a quebra de sigilo de Zambelli, sob resistência da extrema direita, que vem atuando para tumultuar as sessões e postergar as investigações.
Bolsonaro teria ordenado disparo em massa de fake news: ‘Repassa ao máximo’
“Quando a gente recebeu o Delgatti, depois perguntei a ele o que ele tinha de prova material e ele fez referência aos áudios e vídeos. Segundo a defesa, essas informações já estariam de posse da PF. São informações que a gente tinha e não há dúvida nenhuma, substancia, ajuda, mas a nossa decisão tem base no depoimento que ele fez”, disse Eliziane, ao lembrar do depoimento de Delgatti na Comissão na última semana.
Relatora da CPMI do 8 de janeiro pede a quebra de sigilos de Valdemar da Costa Neto
‘Nunca serei de esquerda’
Em outro áudio, Delgatti dá a entender que o contato com Bolsonaro era frequente. “O Bolsonaro, ele tá fazendo questão que eu vá lá. Aí, teve alguém da equipe que falou: ‘Irmão, é bom ele não vir aqui porque pode queimar’. Ele (Bolsonaro) falou: ‘Quem manda aqui sou eu, e ele vai vir’”, afirma o hacker. “Ou você acha que o presidente da República estaria correndo esse risco de me receber lá, me receber lá, se não fosse algo que ajudasse muito ele?”, completa.
Em outro trecho do áudio, Delgatti rasga a atual narrativa de bolsonaristas de que o hacker estaria atuando de má-fé para prejudicar o ex-presidente. A estratégia de defesa da extrema direita tenta posicioná-lo como favorável ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma vez que ele também foi responsável pelo escândalo da Vaza Jato, que escancarou a parcialidade e o conluio do ex-juiz Sergio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol durante a Operação Lava Jato.
A realidade é oposta, como aponta o áudio. Lula nunca deu atenção ou reconhecimento ao hacker. “O Lula nunca quis… me falou um ‘oi’”, diz. Nas palavras do programador: “O que eu vou fazer atrás de Lula? Eu nunca vou ser de esquerda. Eu sempre gostei de arma”, sentencia.
Então, o fato é que o hacker tem proximidade com a extrema direita. Ele trabalhou diretamente para Zambelli, que pagou quantias próximas a R$ 40 mil reais a Delgatti. Sobre essa relação, ele relata: “Eles estenderam a mão para mim, cara. A Carla me tratou hoje como se fosse um filho, coisa que nunca aconteceu na minha vida”, diz Delgatti. “A ponto da mãe dela me servir leite com Nescau, na mesa, e acompanhado com ela.”