Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, repudiou a declaração feita hoje pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que se disse “extremamente satisfeito” com as operações policiais no litoral norte de São Paulo, que já deixaram 14 mortos. Em entrevista ao UOL, a ministra defendeu um trabalho de conscientização junto a autoridades para evitar o uso da violência em ações de segurança, destacou que um jovem negro morre a cada 30 minutos, em média, no país, e afirmou que a “pele preta não pode ser suspeita”, diz O Globo
Segundo a Secretaria de São Paulo, o número de mortes se explica porque houve confrontos e os agentes reagiram contra homens armados, mas familiares das vítimas acusam a polícia de ter agido em vingança e assassinado pessoas indefesas após a morte do policial Patrick Bastos Reis, na semana passada, no Guarujá (SP). Anielle Franco disse que a vingança “vai sempre pesar sobre as pessoas fracas e mais pobres”
– Quando tem declaração como essa, como a do governador de São Paulo e como já aconteceu com governadores do Rio, a tristeza maior é que são famílias que perdem seus entes queridos. Toda solidariedade não só ao policial militar Patrick, mas às famílias que tiveram seus filhos assassinados. A palavra vingança, quando pesa, vai sempre pesar sobre as pessoas fracas e mais pobres, e com a cor que a gente sabe que é, que são as pessoas de pele negra – afirmou Anielle Franco.
A ministra disse que é “triste e lamentável” a ocorrência de chacinas até hoje.
– Sinto muito que em 2023 a gente ainda esteja vivenciando chacinas como essa. Ainda é muito triste e precisa cada vez mais conscientizar que a pele preta não pode ser suspeita. Não podem entrar e atirar – disse a ministra, que perdeu sua irmã, Marielle, assassinada no Rio. – Costumo lembrar que muitas vezes na Maré (favela onde cresceu) a gente não podia entrar e sair por conta da violência. Hoje tenho quase 40 anos e lembro de como menina já ter passado por situações como essas. E quantas pessoas inocentes, quantos policiais, já perdemos nessa trajetória de ser favelada.
Ao citar medidas realizadas pelo ministério da Igualdade Racial no combate à violência policial, Anielle destacou a caravana Juventude Negra Vive, que já foi a 16 cidades neste ano com ofertas de ações de educação, cultura e esportes e que abriu diálogos com governantes, polícias, Defensorias Públicas e Ministérios Públicos para a formulação de políticas públicas de enfrentamento à violência contra a população jovem e negra.
Questionada se esse tipo de atuação poderia ser visto como “enxugamento de gelo” diante das posturas bélicas de governadores de estado, ela defendeu o trabalho.
– Não acho, porque alguém tem que fazer. Precisamos fazer o trabalho para a gente pensar que jovens negros não podem seguir morrendo. Nossa juventude quer viver. Por isso educação e cultura têm que chegar nesses lugares. É preciso dialogar sim com polícia, governadores e prefeitos para que entendam de uma vez por todas que não é pela violência que a gente consegue combater esse mal da segurança pública – concluiu a ministra.