Depois do entrevero entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Chile, Gabriel Boric, na Cúpula Celac-União Europeia, realizada em Bruxelas, na Bélgica, esta semana, o sociólogo argentino Jorge Elbaum afirmou, ao site Sputnik, que a resposta que o chileno ouviu do brasileiro mostra que Boric não tem aliados importantes na América Latina. Depois de “exigir” que os países da região condenassem a Rússia pela guerra contra a Ucrânia, ele recebeu uma resposta irônica de Lula.
“Eu não tenho por que concordar com o Boric, é uma visão dele. Eu acho que a reunião (entre Celac e UE) foi extraordinária. Possivelmente, a falta de costume de participar dessas reuniões faz com que um jovem seja mais sequioso e mais apressado, mas as coisas não são assim”, afirmou o presidente a jornalistas, na quarta-feira (19), ainda em Bruxelas, segundo a Rede Brasil Atual.
A posição de Lula e colegas de esquerda na região acabou prevalecendo. A declaração final do encontro em Bruxelas defende a paz na Ucrânia, mas não menciona a Rússia, nem condena o presidente russo Vladimir Putin.
Chileno insiste em condenar a Rússia
De acordo com Elbaum, Lula colocou em palavras, basicamente, um sentimento presente nos países da América Latina, devido à insistência de Boric em condenar a Rússia, “quando é óbvio que o conflito no Leste Europeu é resultado da prepotência da Otan e das ambições dos Estados Unidos de desmembrar e enfraquecer a Rússia”.
O presidente chileno, de apenas 37 anos, havia afirmado que “a declaração conjunta (sobre a guerra, dos membros da Cúpula) está travada porque alguns não querem dizer que a guerra é contra a Ucrânia”. “O que acontece é uma guerra de agressão imperialista, inaceitável, em que se viola o direito internacional”, disse. Segundo ele, “hoje é a Ucrânia e amanhã pode ser qualquer um de nós”.
Depois da resposta do presidente brasileiro, já em Paris, Boric disse que tem “respeito infinito e carinho por Lula”. “Não me sinto ofendido, me sinto tranquilo por ter oportunidade de conversar com ele”, declarou.
O sociólogo e também jornalista argentino destaca ainda que o presidente do Chile está ficando “isolado em seu posicionamento” no âmbito regional. Mais do que isso, afirma que Boric representa um “pseudo-progressismo” na América Latina e na Europa. Assim, o jovem líder chileno acaba exercendo “uma função vazia que joga claramente do lado dos interesses mais concentrados do neoliberalismo”.
Boric tem narrativa parcial
Elbaum salienta ainda que Boric parece se esquecer que o conflito remonta a 2014, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukóvytch, foi deposto por um golpe de Estado patrocinado por interesses dos EUA e do Ocidente. Esse golpe foi “uma tentativa de limpeza étnica que se manifestou no assassinato de habitantes e em bombardeios da região de Donbass”, diz o argentino. Essa região russófona da Ucrânia está hoje sob controle de Moscou.
Seja como for, de certa maneira Boric conseguiu atrair os holofotes. Após recebê-lo no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, na sexta-feira (21), o chileno ouviu um elogio do chefe do governo francês. “Quero agradecer sua inequívoca posição sobre a guerra lançada pela Rússia na Ucrânia”, disse Emmanuel Macron.