No New York Times, o correspondente no Rio de Janeiro, Jack Nicas, analisa como o Brasil se livrou de um estroina da extrema-direita enquanto o Bolsonaro deles, Donald Trump, segue no páreo.
“Embora Trump enfrente acusações federais e estaduais que o acusam de subornar uma estrela pornô e manipular documentos sigilosos, ele continua sendo a figura mais influente da direita americana. Mais de dois anos depois de deixar a Casa Branca, ele novamente parece prestes a se tornar o candidato republicano à presidência, com ampla vantagem nas pesquisas”, escreve.
“No Brasil, o Sr. Bolsonaro enfrentou uma reação muito mais rápida e feroz. Ele também enfrenta inúmeras investigações criminais. As autoridades invadiram sua casa e confiscaram seu celular. E na sexta-feira, menos de seis meses depois que ele deixou o poder, o tribunal eleitoral do Brasil votou para bloquear o Sr. Bolsonaro de cargos políticos pelo resto da década”.
Alguns trechos:
As consequências contrastantes para os dois homens refletem diferenças importantes nas estruturas políticas e governamentais dos dois países. O sistema dos EUA deixou o destino de Trump nas mãos dos eleitores e do processo lento e metódico do sistema de justiça. No Brasil, os tribunais têm sido proativos, rápidos e agressivos ao extinguir qualquer coisa que considerem uma ameaça à jovem democracia do país.
As eleições nos EUA são conduzidas pelos estados, com uma colcha de retalhos de regras em todo o país sobre quem pode concorrer e como. Em muitos casos, um dos poucos obstáculos para aparecer em uma cédula é coletar assinaturas suficientes de eleitores qualificados.
No Brasil, as eleições são regidas por um Tribunal Federal Eleitoral, que, como parte de suas atribuições, avalia regularmente se os candidatos têm o direito de concorrer a cargos públicos. (…)
O sistema eleitoral centralizado do Brasil também impediu Bolsonaro de travar uma luta tão prolongada pelos resultados da eleição quanto Trump fez.
Nos Estados Unidos, uma contagem lenta dos votos atrasou a declaração do vencedor por uma semana, e o processo do Colégio Eleitoral levou mais alguns meses. Cada estado também realizou suas próprias eleições e auditorias. Isso deu a Trump e aos políticos e grupos que o apoiam tempo e várias frentes para montar ataques contra o processo.
No Brasil, uma nação de 220 milhões de habitantes, o sistema de votação eletrônica contou os votos em duas horas. A autoridade eleitoral central, e não a mídia, declarou o vencedor naquela noite, em uma cerimônia envolvendo líderes do Congresso, tribunais e governo. (…)
Omar Encarnación, professor do Bard College que estudou os sistemas democráticos dos dois países, disse que, apesar de seus problemas, o sistema democrático do Brasil pode fornecer um modelo de como combater novas ameaças antidemocráticas.
“As democracias basicamente estão lutando contra a desinformação e Deus sabe o que mais com instituições muito antiquadas”, afirma. “Precisamos atualizar o hardware. Não acho que foi projetado para pessoas como esses países estão enfrentando”.
*Por DCM