Luis Nassif*
Duas reportagens de Veja, ontem, não deixam dúvidas sobre a armação do Centrão para se apossar do Ministério da Saúde. Não há nenhuma sutileza, nenhum disfarce: é lobby na veia, repetindo o período do chamado “jornalismo de esgoto”.
A primeira diz que Ministério da Justiça apura irregularidades na Fiocruz. O Ministério, em questão, é o do período Bolsonaro e a suposta “irregularidade” teria sido o fato de uma pesquisa sobre crack. Segundo a CGU (Controladoria Geral da União), em pleno período dominada pelo fascismo da Lava Jato, a Fiocruz teria entregue uma pesquisa que impedia comparações com pesquisas anteriores.
Fiocruz é a fundação por excelência da saúde pública brasileira. Sua pesquisa obedeceu a todos os princípios aplicados em pesquisas acadêmicas. E constatou que não havia epidemia de crack no país. A CGU, em um período em que fiscais sem compromisso com a imagem da corporação, chegaram a analisar pedagogicamente currículos de universidades federais, concluíram que, como a metodologia das pesquisas não batiam, a da Fiocruz estaria errada.
Por trás das “denúncias” a constatação da Fiocruz que provavelmente impediriam verbas públicas para as malfadadas comunidades terapêuticas – hospícios para viciados, um dos pontos de apoio do bolsonarismo, como comprova a atuação do governador paulista Tarcísio de Freitas.
Tudo isso serviu de pano de fundo para Veja acusar a Fiocruz de irregularidades e, no momento seguinte, publicar outra reportagem anunciando um certo professor Luizinho, como o próximo Ministro da Saúde. Fica claro uma parceria da revista com o Centrão, lançando suspeitas sobre as relações de André Esteves, presidente do BTG e controlador da Abril, com Arthur Lira, presidente da Câmara, certamente imaginando os tempos em que a revista tinha peso político para demitir Ministros, em parceria com Carlinhos Cahoeira.
É a chamada guerra impossível, que poderá significa o fim do reinado de Lira. Se abrir mão do Ministério da Saúde para o Centrão, o governo Lula simplesmente acaba. A não ser que se acredita na síndrome do suicídio político, Lula jamais tomaria essa decisão.
Chama atenção nas matérias, no entanto, o nome do deputado Ricardo Barros, do Paraná. Barros foi responsável por colocar na Saúde o esquema mais perniciosoda história, desde seus tempos de Ministro do governo Temer.
Seu golpe predileto era romper contratos de medicamentos de alto custo e gerar uma escassez. Com base nela, adquiria medicamentos sem licitação. Em pelo menos um caso, o medicamento, chinês, não tinha nenhuma eficácia, levando crianças à morte.
Seu esquema permaneceu no governo Bolsonaro. O fato de até agora não ter sido condenado é o sinal mais rotundo do fracasso da Justiça brasileira, e de um Ministério Público que só sabia atuar politicamente.
*Com GGN