Índices adquiridos pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação revelam que armas de fogo adquiridas no período entre maio de 2019 e o fim de 2022 se concentram nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.
A cada 100 mil pessoas foram registradas 1.061,8 armas na região sul e 1.034,5 na região centro-oeste. Enquanto isso, a região norte do país ocupa a terceira posição com 330,6 armas de fogo por 100 mil habitantes, mostrando uma grande disparidade entre essas duas regiões e o resto do país.
As regiões sudeste e nordeste ocupam, respectivamente, a quarta e quinta posições, com 297,2 e 176,3 armas de fogo adquiridas num universo de 100 mil pessoas.
Santa Catarina, por sua vez, é o estado com a maior taxa de armas de fogo por 100 mil habitantes do país – 1.224,2. Ele é acompanhado num top 3 por dois estados da região centro-oeste, Goiás e Mato Grosso do Sul, com 1.146, 4 e 1.088,1 armas por 100 mil pessoas, respectivamente.
Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, justifica os números ao afirmar que essas regiões têm tradição em posse de armas, mas não esconde que os números chamam atenção. “Já havia uma pista de que isso aconteceria, por causa da expansão acelerada de clubes de tiro, mesmo em cidades bem pequenas dessas regiões”, disse Bruno em entrevista ao Metrópoles.
O especialista também aponta o crescimento no número de homicídios nesses estados e regiões com altas taxas de armamento. Segundo ele, a região norte teve um aumento de homicídios em 2021, assim como outros estados da região centro-oeste, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Roberto Uchôa, pesquisador e Membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), também em entrevista ao metrópoles, lembrou de “6 mil armas de calibre restrito que ninguém sabe onde estão”. “São justamente esses os equipamentos sobre os quais o país tinha de ter um maior controle, por serem de calibre restrito. Isso é muito preocupante. Muitas dessas armas podem estar na Região Norte”, comentou o pesquisador.
Esse tipo de armamento, após o início do governo Lula, teve que passar por um processo de recadastramento para facilitar seu controle.
Langeani, por fim, ressalta que o momento que o Brasil vivenciou durante o governo Bolsonaro, com flexibilização na regulamentação do armamento, possibilitou um maior armamento de grupos criminosos, inclusive aqueles que atuam em regiões de difícil fiscalização, como áreas florestais e rurais. “É um afrouxamento do governo que contribui para crimes ambientais e faz crescer o risco para agentes públicos que atuam na fiscalização da região”, finalizou Bruno.