CPMI dos Atos Golpistas: o eixo religioso

CPMI dos Atos Golpistas: o eixo religioso

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Flávia Oliveira*

Parlamentares protocolaram requerimentos de convocação de seis integrantes de igrejas evangélicas acusados de envolvimento no 8 de Janeiro.

As investigações dos atentados contra a democracia brasileira envolvem, além dos criminosos que atacaram as sedes dos três Poderes, políticos, militares, empresários. Um novo núcleo, de religiosos, pode emergir na CPMI dos Atos Golpistas. Os deputados Henrique Vieira e Erika Hilton, ambos do PSOL, protocolaram requerimentos de convocação de seis integrantes de igrejas evangélicas envolvidos nos ataques ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, no 8 de Janeiro. Cinco deles já são réus no Inquérito 4.921 do STF; o sexto é um pastor de Goiânia que coordenava um grupo de mensagens instantâneas convocando para manifestações.

Desde os ataques, a Polícia Federal busca identificar criminosos que participaram, financiaram, omitiram-se ou fomentaram a tentativa de golpe. Foram para a rua 12 etapas da Operação Lesa Pátria. As suspeitas alcançam políticos — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro —, militares e empresários. Agora pode se estender a evangélicos, grupo que também se destacou na sustentação do governo passado.

O Supremo já aceitou, em sete blocos de análise, 1.245 denúncias da Procuradoria- Geral da República contra envolvidos nos atos golpistas. Elas incluem os crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, ameaça, perseguição, incitação ao crime, dano e deterioração de patrimônio tombado. Com a instauração das ações penais, serão coletadas provas e ouvidas testemunhas de defesa e acusação. Ainda não há previsão de julgamento.

Nesta semana, a CPMI fez os primeiros interrogatórios, começando por Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal. Entre os nomes cuja convocação foi aprovada estão o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (PL); Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF; os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministros da Casa Civil e do GSI, respectivamente.

Os pedidos de convocação dos religiosos foram protocolados pelos representantes do PSOL, mas ainda não entraram na pauta da CPMI. O deputado Henrique Vieira, eleito pelo Rio de Janeiro, é pastor batista. Sempre foi crítico do que chama de “usurpação criminosa da fé”.

— É preciso denunciar o processo de bolsonarização, de partidarização de muitas igrejas. Será o início de uma investigação que pode chegar longe. Por um lado, ela respeita a fé do nosso povo; por outro, dá nome ao que é criminoso, ao que é autoritário, ao que é usurpação da fé. Esse é um debate que não pode ser omitido.

*O Globo

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