A história do empresário Alberto Vilaça, condenado pela Lava Jato em processo envolvendo a Mendes Junior, é mais um esqueleto no armário de Sergio Moro.
Vilaça foi pressionado pelo procurador de Curitiba Roberson Pozzobom, parceiro de Deltan Dallagnol na empreitada fracassada da Fundação Lava Jato, mas se negou a fazer delação premiada pois não tinha o que delatar. Acabou preso e condenado por Moro, que ignorou provas de inocência levada aos autos para lhe impor uma sentença de mais de 10 anos de reclusão.
Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, na TVGGN [assista abaixo], Vilaça narrou como foi preso a mando de Moro com base apenas na palavra de um delator. Ainda traumatizado pelos métodos heterodoxos de Moro, Vilaça lembra com raiva do dia em que teve audiência com o então juiz, que não lhe rendeu mais de 12 minutos de atenção para ouvir sua versão dos fatos.
“Moro me deu 12 minutos de audiência com ele. Nada do que eu falei mudou [o processo]. Ele já estava com a condenação firmada na cabeça dele, não tinha outra coisa na cabeça dele, fez [a audiência] só pró-forma.”
Ex-diretor técnico da Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A, Alberto Vilaça detalhou como funcionava a pressão da força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba para obter delações premiadas. Segundo ele acredita, sua delação e confissão de crimes na Mendes Junior era necessária para Moro alegar formação de quadrilha na empresa.
“Eles queriam que eu falasse alguma coisa. Não tenho prova, como eu vou falar?“
Vilaça ainda disparou na entrevista a Nassif que o Ministério Público “tentou fabricar provas contra mim”.
“Sem conhecimento dos delatores, [os procuradores] anexaram uma lista de telefonemas meu com funcionários da Setal. Isso tudo foi explicado e não aceito [no processo]. A Mendes Junior tinha consórcio com a Setal e eu era responsável técnico pela Mendes Junior. Eram relações técnicas, não existiu nenhuma conversa ilícita”, disse.
Alberto foi preso em agosto de 2018, junto dos ex-executivos Sérgio Cunha e Rogério Cunha, por corrupção ativa e associação criminosa.
Aposentado desde 2011 após trabalhar por 29 anos na Mendes Junior, Alberto acredita que o Ministério Público, no afã de encontrar mais peças da midiática Lava Jato, fazia com que as pessoas o relacionassem à corrupção por seu reconhecimento no mercado de óleo e gás, mesmo sem uma prova sequer.
“Depois de ver os processos [tive certeza], as pessoas falavam meu nome e várias delas nem me conheciam, mas por uma pressão do Ministério Público para delatarem mais alguém da Mendes Júnior, falaram meu nome.”
As transgressões de Moro
vão ainda mais longe quando Vilaça relata que foi alvo de três processos no total, sendo que Moro julgou o primeiro e os outros dois, que tinham fundamento muito parecido, foram levados à Justiça Eleitoral pela 13ª Vara, depois que Antonio Bonat, Gabriela Hardt e até Eduardo Appio entenderam que os casos não eram de competência daquela instância.
O caso na Justiça
Depois de passar pelas mãos de Moro, o primeiro dos três processos da Lava Jato contra Vilaça foi apreciado pelo TRF-4, que sempre esteve alinhado aos planos da autoproclamada República de Curitiba.
À época, o desembargador da 8ª Turma do TRF-4, João Gebran Neto, relator da Lava Jato no colegiado, endossou a sentença de Moro e aumentou a pena para 30 anos de reclusão, mas no final a pena foi fixada nos 12 anos de reclusão.
“Victor Laus pediu vistas no processo porque não estava entendendo nada daquilo e a pena que eu já tinha, de 30 e tantos anos, voltou para 10, mas deu 12 anos e alguma coisa. E, com isso, eu fui levado a ficar lá [Curitiba], no zoológico do nosso amigo Moro.”
Segundo Alberto Vilaça, Gebran Neto ainda errou a apontar que tanto o empresário quanto a Mendes Junior haviam feito acordo de delação e leniência.
“Fomos ao Supremo [recorrer], mas ainda está lá, já tem a decisão que concorda com o TRF-4, mas ainda não está sacramentado, falta vista do Ministério Público ou qualquer coisa que valide, e nós já entramos lá com um habeas no STF porque não é justo isso aí”.
A herança da Lava Jato
Alberto desabafa à TV GGN que o baque que a família sofreu na época foi grande. Sua esposa desenvolveu depressão e seus quatro filhos foram bombardeados com falsas informações sobre o pai.
Um deles prestava serviço a uma outra empresa da Petrobras e um dos fiscais, sempre que podia, fazia inúmeras declarações para criminalizá-lo. “Mas eles [filhos] me conhecem, sabem da minha índole.”
*GGN