Sergio Moro talvez não tenha percebido, mas servirá como cabo eleitoral involuntário de Cristiano Zanin, indicado por Lula ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, durante a sabatina no Senado Federal. Será um irônico desfecho para quem praticamente empurrou Zanin para o cargo.
O ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, que perdeu muito de seu prestígio após serem reveladas mensagens de que ele combinou o jogo da condenação de Lula com procuradores da força-tarefa da Lava Jato, tornou-se um lembrete vivo da criminalização da política.
Em contraposição, o garantista Zanin caminha para o STF exatamente por se destacar nos embates jurídicos travados com Moro, com o Tribunal Regional Federal da 4ª Região e com o próprio Supremo.
Não estou aqui discutindo se Lula deveria ou não ter indicado o seu advogado pessoal para o cargo, apenas entendendo o contexto político em que a indicação será analisada pelo Senado.
Caso a operação de combate à corrupção tivesse seguido as regras, sem promiscuidade entre acusadores e julgador, com o respeito ao devido processo legal e à ampla defesa e sem politização das condenações, Zanin nunca teria sido alçado à posição que está hoje.
É irônico. Moro, que sempre desejou uma cadeira no STF e chegou a ser considerado um candidato natural à vaga, é quem abriu caminho para Zanin ocupar essa posição.
Pois alguém imaginava em 2018 Zanin ministro do tribunal?
Não nos é dado o poder de prever as voltas que o mundo dá. Lula (que foi duas vezes presidente, elegeu e reelegeu sua sucessora, permaneceu 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal, viu Bolsonaro ser eleito e indicar Moro ministro da Justiça, foi solto, teve sua condenação anulada, assistiu Moro ser declarado parcial e foi eleito novamente presidente) pode confirmar isso. Então, é difícil saber se, um dia, o ex-juiz chegará ao STF.
Mas, por hoje, ele é um alerta aos seus colegas de parlamento, governistas, oposicionistas e do centrão, do que acontece quando a Justiça se desvia e ataca a política, o que ajudará Zanin na sabatina.
Ao mesmo tempo, ele pode nem terminar o mandato. Um processo em curso no Tribunal Regional Eleitoral no Paraná analisa se a sua candidatura ao Senado cometeu abuso de poder econômico. Se o TRE ou o TSE acharem que sim, ele voltará a advogar. Talvez para defender um Bolsonaro condenado pela Justiça?
*Leonardo Sakamoto/Uol