Famílias que vivem no assentamento 12 de Outubro, em Cláudia (MT), estão sob ameaça devido à invasão da área social e de reserva do local por grileiros. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denuncia que bandidos atuam há meses, de maneira coordenada, para invadir o local, que é certificado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
As invasões começaram pela área de reserva ambiental, que por anos foi preservada coletivamente pelas famílias que vivem no assentamento, localizado na região Amazônica do norte do Mato Grosso. Nos últimos meses, as agressões se intensificaram, com a tentativa de invasão da área social, onde os cooperados desenvolvem suas atividades e projetos que garantem renda para as famílias assentadas.
Um dos moradores do assentamento falou com o Brasil de Fato e contou que a área já é visada há muito tempo. As famílias, organizadas, resistem. Algumas, inclusive, tiveram de ser realocadas quando parte do terreno foi alagado para construção da Usina Hidrelétrica de Sinop, em 2014. Por questões de segurança, o nome do morador será preservado.
“A usina deixou vários caminhos, várias brechas para que esses grileiros pudessem grilar nossa reserva. No primeiro momento nós do MST conseguimos obstruir a entrada desses invasores. Mas depois não conseguimos mais, porque aí veio muito interesse, por causa da usina” disse, mencionando condomínios de luxo construídos à beira dos lagos artificiais criados para geração de energia.
O assentamento está vinculado ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) do Incra, que certifica projetos de interesse social e ecológico destinados a populações que baseiam sua subsistência no extrativismo, na agricultura familiar e outras atividades de baixo impacto ambiental. As famílias desenvolveram projetos com apoio da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Neste momento, os assentados trabalham para implantar uma agroindústria de Castanha do Brasil. A reserva originalmente tinha muitas castanheiras, mas boa parte das árvores foi queimada ou derrubada pelos invasores. As que ainda dão frutos estão isoladas pelos grileiros, que não permitem que as famílias se aproximem. Ainda assim, o trabalho continua.
“Nós estamos com processo de plantio de castanha, também. Grande parte dos cooperados tem plantio de castanha nas suas áreas individuais. E, na área social da cooperativa, está dentro do último projeto aprovado a gente reflorestar com Castanha do Brasil e outras frutas, como baru, pequi, através do sistema agroflorestal”, contou o morador ouvido pelo Brasil de Fato.
MST pede apoio
Ao denunciar as invasões, o MST pede ajuda para garantir a segurança de espaços como a nova sede da Escola Estadual Florestan Fernandes, fruto de antiga luta das famílias para garantir acesso a educação de qualidade para as crianças e jovens do assentamento.
O Movimento afirma que a situação das famílias está “insustentável”, e pede apoio da sociedade civil. “Precisamos denunciar essa invasão e exigir dos órgãos competentes a imediata atuação para garantia da fonte de sustento destas famílias, as áreas produtivas, além da garantia de segurança das famílias e da preservação da integridade física, já que estes bandidos se encontram fortemente armados”, pontua o MST, em nota.
*Publicado originalmente no “Brasil de Fato”