Mais de 20 países estão na fila para entrar nos BRICS

Mais de 20 países estão na fila para entrar nos BRICS

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Procura, segundo representante sul-africano no grupo, é sinal de que mundo emergente vê no grupo possibilidade de ganhar voz para construir mundo ‘mais justo e inclusivo’.

Marcada para agosto na África do Sul, a próxima reunião de cúpula dos Brics promete. Primeiro, há a crescente rivalidade entre o Ocidente e dois dos membros do grupo, China e Rússia, que buscam nos Brics um ponto de apoio para contrabalançar a influência do G7, o clube dos países industrializados que teve sua cúpula semana passada. Mais de vinte nações já manifestaram interesse em entrar nos Brics, diz Anil Sooklal, o representante da África do Sul no grupo de economias emergentes, do qual fazem parte também o Brasil e a Índia. As informações são de Marcelo Ninio, O Globo.

Para Sooklal, é um sinal de que o Sul Global vê no Brics um meio de ganhar voz para construir um mundo “mais justo e inclusivo”, disse o diplomata sul-africano em entrevista. Outro ponto de tensão é a possível participação do presidente da Rússia, Vladimir Putin, contra quem há um pedido de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI). Sooklal descartou a possibilidade de a África do Sul deixar o TPI para evitar ter que prender Putin. Mas confirmou que o presidente russo foi convidado para a cúpula — e aceitou o convite.

Que reformas vocês propõem?

Como um coletivo, acho que os Brics têm que sempre dar voz à lentidão do processo de reforma do Conselho de Segurança da ONU. São quase 20 anos de discussão sem progresso. E o mesmo para as outras instituições multilaterais. Ao articular essa frustração como uma prioridade, nós mantemos o assunto no radar global. É necessária uma transformação séria, não apenas uma reforma, para que essas instituições sejam mais inclusivas e representativas. O sistema ficou semiparalisado porque certos países continuam dominando as instituições e não querem uma reforma séria.

Em que estágio está a ideia de expandir os Brics?

Houve um tremendo interesse no último ano de países de todas as regiões do Sul Global em se tornarem membros dos Brics. O número de países que manifestaram interesse, formal ou informalmente, passa de 20. É evidente que os temas, princípios e valores que os Brics defendem encontram ressonância na comunidade internacional, especialmente no Sul Global. Esses países se veem marginalizados, sentem que suas vozes não são ouvidas e que decisões são tomadas por eles. Acho que se cansaram disso. E articularam sua frustração dizendo que sim, veem nos Brics a voz do Sul Global para uma arquitetura mundial mais justa e inclusiva, que não sirva aos interesses só de uns poucos. É o que estamos vendo: países menores exercendo sua soberania, reivindicando seu espaço político para tomar suas próprias decisões nos grandes temas globais, sem serem forçados a tomar um lado. Querem ser parte da solução dos problemas globais, e não que eles sejam decididos sem sua presença e voz.

Como será a expansão? Os novos países serão candidatos plenos?

No ano passado, na cúpula dos Brics presidida pela China, a declaração final falava especificamente em expandir o grupo. Os líderes concordaram em começar a discutir a expansão e instruíram seus representantes a examinar os princípios, padrões, critérios e procedimentos que a guiarão, com base em consultas e consensos. Esses princípios serão apresentados na reunião de chanceleres da próxima semana na Cidade do Cabo. Estamos ainda numa fase inicial.

E em relação à ideia de estabelecer uma moeda dos Brics?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou muito fortemente contra o domínio de apenas uma moeda. Os Brics têm discutido isso há muito tempo, de fato há alguns anos assinamos o acordo de arranjo interno que facilita o comércio em nossas próprias moedas. Ele precisa ser atualizado e agora há um grande foco nisso, não apenas entre os países dos Brics. Muitos países do Sul Global gostariam de exercer sua soberania financeira e começar a comercializar entre eles e também tomar empréstimos no mercado global em moedas locais, sem serem obrigados a usar uma determinada moeda, que traz desvantagens para nós. É isso o que estamos discutindo dentro dos Brics, em um estágio inicial, para começar o comércio entre nossos países em moedas locais. É um primeiro passo para a independência financeira.

 

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