A Polícia Federal afirma que certificados de vacinação contra Covid-19 foram emitidos pelo usuário do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no aplicativo ConecteSUS. Um dos documentos foi emitido um dia após a inserção de dados supostamente falsos no sistema.
Um outro certificado também foi emitido da conta da filha caçula de Bolsonaro no aplicativo, no dia 27 de dezembro, em inglês. No dia seguinte, ela embarcou para os Estados Unidos, para onde o pai seguiu dois dias depois.
Seis dias depois, em 27 de dezembro às 20h59, os dados foram excluídos do sistema pela servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva, sob alegação de “erro”.
O relatório da PF aponta que, ao todo, quatro certificados de vacinação foram emitidos pelo usuário associado a Bolsonaro. Dois deles, publicados antes da exclusão das informações supostamente falsas, trazem as informações das duas doses do imunizante da Pfizer. Os comprovantes foram emitidos nas seguintes datas: 22 de dezembro de 2022, às 8h; 27 de dezembro de 2022, às 14h19
Já os outros dois certificados foram emitidos após a exclusão das informações. Eles não trazem mais informações sobre doses da Pfizer, apenas sobre uma vacina da Janssen, que teria sido aplicada em 2021.
Ainda de acordo com o relatório da PF, nas datas de 22 e 27 de dezembro do ano passado, registros indicam que a conta de Bolsonaro no ConecteSUS foi acessada usando conexão do Palácio do Planalto.
Já o acesso no dia 30 de dezembro foi feito pelo celular do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, que atuava como ajudante de ordens e era considerado braço direito de Bolsonaro. Inclusive, segundo a PF, até o dia 22 de dezembro, o usuário do ex-presidente no sistema do MS estava associado a um e-mail de Mauro Cid.
Após a emissão do primeiro certificado, de acordo com a investigação, a conta passou a ser associada ao e-mail de um outro assessor do ex-presidente, Marcelo Costa Câmara, que integrou a comitiva de Bolsonaro aos Estados Unidos, entre janeiro e março deste ano.
“A alteração cadastral pode ser atribuída ao fato de que Mauro Cesar Cid deixaria de assessorar o ex-Presidente Jair Bolsonaro a partir de 01 de janeiro de 2023, passando tal função a ser exercida por outras pessoas, dentre elas, Marcelo Câmara, que inclusive viajou para a cidade de Orlando em três oportunidades para acompanhar Jair Bolsonaro”, diz o relatório.
A PF afirma que as evidências apontam que os certificados de vacinação foram emitidos por pessoas próximas a Bolsonaro, e que “não se evidenciou qualquer fato suspeito relacionado à utilização indevida do usuário do ex-Presidente da República, por terceiros não autorizados”.
Para os investigadores, a apuração aponta que Bolsonaro e os assessores “tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento”.
As supostas informações falsas sobre a vacinação de Bolsonaro foram inseridas no Ministério da Saúde pelo secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, preso na operação desta quarta-feira (3).
Em 27 de dezembro, os dados foram excluídos pela servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva. Ela foi alvo de mandado de busca e apreensão. Três dias após a exclusão das informações, em 30 de dezembro, Bolsonaro viajou aos Estados Unidos, onde permaneceu até março deste ano.
Nesta quarta, após a operação, o ex-presidente voltou a negar que tenha sido vacinado contra a Covid-19. “Não existe adulteração da minha parte, eu não tomei a vacina”, disse a jornalistas.