Divulgação de suposta negociação gerou acusação de fake news e contraofensiva nas redes.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se viu pressionado entre bolsonaristas e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) devido a uma crise causada pela divulgação de informações sobre uma suposta negociação do Governo de São Paulo com a empresa ucraniana Antonov.
O caso eclodiu após reportagem da CNN Brasil afirmar que a Antonov deixou de investir US$ 50 bilhões no Brasil devido a falas do presidente sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que foi apontado como fake news por petistas.
A CNN Brasil então publicou uma nota da Secretaria de Negócios Internacionais, comandada por Lucas Ferraz, na qual a pasta afirma ter recebido representantes da Antonov para tratar do tema.
A estatal ucraniana, porém, afirmou por meio de nota que não tem representantes no Brasil, o que levou ministros de Lula a acusarem o governo paulista de espalhar informação falsa para prejudicar o governo federal.
Nesta sexta (28), enquanto aliados de Lula cobravam até mesmo investigação do caso pelo Ministério Público, redes bolsonaristas buscavam refutar as críticas, com base em nova reportagem com um diretor da Antonov citando uma negociação preliminar com o governo.
Auxiliares de Tarcísio se dividiram em relação ao episódio, com parte avaliando que Ferraz causou um desgaste desnecessário a todo o governo, e outra parte considerando que a situação estava esclarecida após a empresa ucraniana voltar atrás.
Tarcísio, por sua vez, sinalizou que Ferraz pode ser substituído, ao falar com o presidente Lula sobre o assunto pelo telefone e se reunir com Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, que é cotado para o posto, como noticiou a coluna Painel, da Folha. Deputados aliados do governador, porém, afirmam acreditar que o secretário não será demitido.
A crise com o governo federal ocorre às vésperas do ato político que deve reunir Tarcísio e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no palanque em Ribeirão Preto (SP).
Bolsonaro será recepcionado por apoiadores no aeroporto no domingo (30) e há mobilização para que ocorra uma motociata ou carreata —a presença do governador no domingo não está confirmada. De qualquer forma, ambos estarão juntos no dia seguinte, em feira da Agrishow.
Para integrantes do governo, a situação se tornou problemática porque deu margem para que ministros de Lula atacassem Tarcísio. A exploração política, dizem, é que foi determinante para que o mal-estar com o secretário se disseminasse no Palácio dos Bandeirantes.
Pesou sobretudo o que foi visto como uma tripudiada de Márcio França (PSB), ministro de Portos e Aeroportos, que é adversário de Tarcísio na privatização do Porto de Santos.
“É lamentável ver o Governo de SP produzir, ‘oficialmente’, fake news contra o governo federal. Eu fui governador de SP, o presidente também não era do meu partido, mas tínhamos atitudes republicanas, respeitosas. Esse nunca foi o padrão de São Paulo”, escreveu França no Twitter.
Não foi apenas ele quem partiu para o ataque no primeiro escalão do governo Lula. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT), afirmou que aguardava, “por uma questão de decência”, que o governador Tarcísio e veículos de imprensa que divulgaram “que reproduziram uma fake news absurda contra o governo federal se manifestem e reconheçam a gravidade do que fizeram”.
*Com Folha