Proximidade entre Trump e Musk é herança de uma tradição consolidada nos EUA a partir da Segunda Guerra Mundial, mas com raízes que remontam ao fim do século 19.
Está ocorrendo nos EUA “uma perigosa concentração de poder nas mãos de poucas pessoas super ricas”, ou seja, de uma “oligarquia”. Foi assim que o presidente Joe Biden se dirigiu aos cidadãos americanos em seu discurso de despedida da Casa Branca, transmitido em rede nacional. Referindo-se indiretamente aos bilionários ligados a Donald Trump, ele declarou que sua “extrema riqueza, poder e influência” são ameaças “literais” à democracia.
Como todas as desgraças que vêm ocorrendo nos EUA e no mundo são atribuídas exclusivamente à extrema-direita, encobre-se, no entanto, que essa concentração de poder e riqueza vem de longe e não é nenhuma novidade.
A conclusão da revolução burguesa com a unificação do país após a guerra civil significou a transição do poder da burguesia agrária, ligada ao Partido Democrata, para a industrial, representada pelo Partido Republicano. Já naquela época formavam-se os grandes monopólios capitalistas que controlariam a política dos Estados Unidos até hoje.
“Os Rockefellers no petróleo, os Carnegies e Fricks no aço, os Morgans nos bancos, ou os Harrimans e Hills nas ferrovias – foram esses os homens que tiveram voz influente no Partido Republicano, e também no Partido Democrata, de 1865 a 1901”, escreveu o historiador Arthur S. Link. “Financiavam campanhas políticas e recebiam recompensas do governo na forma de concessões de serviços públicos, terras, isenção de impostos ou proteções tarifárias.”
Eisenhower e os “oito milionários”
Após a Segunda Guerra Mundial – cuja entrada dos EUA foi uma necessidade desses monopólios –, a concentração do poder político pelos monopólios se consolidou. Quando subiu ao poder, em 1953, Dwight Eisenhower preencheu seu ministério com os representantes das grandes companhias: Charles Wilson, da General Motors, para o Pentágono; George Humphrey, da M.A. Hanna Steel Company, para o Tesouro; Sinclair Weeks, um industrial, para o Comércio; Arthur Summerfield, da indústria automobilística, para os Correios e Telégrafos; Ezra Taft Benson, dos mercados agrícolas, para a Agricultura e o rico advogado de grandes empresas, John Foster Dulles, para o Departamento de Estado. Somados a Douglas McKay, do Interior, e Herbert Brownell, da Justiça, eles configuravam um gabinete que foi descrito pela revista New Republic como o de “oito milionários e um bombeiro”.
O bombeiro era o secretário do Trabalho, Martin Durkin, líder sindical da Associação dos Bombeiros e Encanadores. Poucos meses depois, Durkin seria substituído pelo grande empresário lojista James Mitchell, e seria criado o Departamento da Saúde, Educação e Bem-Estar Social sob a responsabilidade de Oveta Culp Hobby, esposa do empresário das comunicações William P. Hobby.
Talvez um dos governos mais famosos por sua relação com a “oligarquia”, como disse Biden, tenha sido o de George W. Bush. Ele mesmo sendo um empresário do ramo petrolífero (além de seus contatos com outras áreas, como a de armamentos), teve como vice-presidente Dick Cheney (empresário do petróleo), cuja esposa trabalhava na diretoria da gigante de armas Lockheed.
Donald Rumsfeld, que foi seu secretário de Defesa (e também de Gerald Ford), teve negócios nas indústrias farmacêutica e eletrônica e a secretária de Estado Condoleezza Rice foi conselheira da Chevron. Não surpreende que muitas das empresas ligadas diretamente ao governo Bush Jr. figurassem entre as grandes beneficiadas da invasão do Iraque.
*Diálogos do Sul