Investigações sobre o “Rei do Lixo” se aproximam de Alcolumbre, cotado para presidir o Senado

Investigações sobre o “Rei do Lixo” se aproximam de Alcolumbre, cotado para presidir o Senado

Compartilhe

PF mira esquema de desvios envolvendo empresário ligado ao União Brasil; liberação relâmpago de verbas reforça suspeitas sobre o senador do Amapá.

As investigações que cercam o empresário José Marcos de Moura, o “Rei do Lixo”, estão cada vez mais próximas do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), cotado para presidir o Senado em 2025. Conforme revelado pela colunista Malu Gaspar, do Globo, a Polícia Federal (PF) identificou a liberação de R$ 14 milhões de recursos do Orçamento, realizada às pressas no último dia de 2023, para favorecer o grupo de Moura, supostamente mediante orientação direta do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, controlado politicamente por Alcolumbre.

A operação, que já resultou na prisão de 16 pessoas sob acusação de fraudar licitações, desviar verbas e utilizar empresas de fachada, voltou-se a um nome central: o do “Rei do Lixo”. Dirigente do União Brasil, Moura teria, segundo a PF, atuação espalhada por 17 estados e diversas cidades, articulando um esquema de superfaturamento de serviços e desvio de dinheiro de emendas parlamentares. Em mensagens interceptadas, o empresário compartilha o contato de Ana Paula Magalhães, chefe de gabinete do senador Alcolumbre, com seus subordinados. Dois dias depois, o grupo conseguiu o empenho relâmpago de R$ 14 milhões para uma obra em Juazeiro (BA).

A tramitação expressa do recurso foi registrada no sistema TransfereGov, comprovando que o dinheiro não surgiu de nenhuma emenda parlamentar, mas sim de uma rubrica sob controle direto do ministro da Integração, Waldez Góes, indicado por Alcolumbre durante o período de transição do governo. Embora a verba tenha sido destinada à construção e reparo de estradas vicinais, a Caixa Econômica Federal exigiu licitação — procedimento que não havia sido realizado. Dessa forma, o montante não chegou a ser efetivamente repassado à empresa do grupo de Moura.

A pasta também é responsável pelo Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), órgão no centro de um escândalo de desvio de recursos de emendas que teria provocado um rombo de R$ 824 milhões só em 2024, segundo estimativas da PF. A liberação do dinheiro na data-limite de 31 de dezembro de 2023 seria uma forma de não “perder” a verba, justamente no apagar das luzes do Orçamento. Especialistas em finanças públicas ouvidos pela reportagem reconhecem a raridade de um desembolso tão vultoso em tão pouco tempo. “Não é qualquer um que consegue liberar R$ 14 milhões em dois dias direto com o ministério”, disse um desses analistas, sob condição de anonimato.

Embora o senador Alcolumbre não seja formalmente investigado, seu nome é citado no relatório da PF que embasou a operação Overclean, deflagrada em 10 de dezembro, quando Moura e outros suspeitos foram presos. Três deles, incluindo o próprio “Rei do Lixo”, foram soltos por decisão liminar da desembargadora Daniela Maranhão, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). No WhatsApp, Moura repassava o contato de Ana Paula Magalhães a um comparsa, Alex Parente, instruindo-o a manter contato para assegurar a liberação da verba em tempo recorde.

A crescente exposição do caso gerou pânico em Brasília, especialmente entre integrantes do União Brasil, mas não apenas. A preocupação é que as revelações atinjam em cheio a imagem de Alcolumbre, cuja candidatura à presidência do Senado em fevereiro de 2025 pode ser prejudicada. A PF já adiantou que deve convocar o parlamentar e sua chefe de gabinete para depoimentos. Em resposta, o senador divulgou nota afirmando confiar plenamente em Ana Paula, descrevendo-a como especialista em Orçamento e atuante “dentro da legalidade, ética e técnica orçamentária e legislativa”.

Procurada, a assessoria do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional negou qualquer articulação de Alcolumbre ou de sua chefe de gabinete para destravar os recursos. Alegou desconhecer “intermediação ou indicação individualizada” de parlamentares e afirmou que o grande volume de liberações no último dia do ano é “costumeiro” na máquina federal.

Compartilhe

%d blogueiros gostam disto: