O impasse político se estabelece na Síria depois que o avanço do grupo rebelde Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) sobre as principais cidades do país destituiu o presidente Bashar al-Assad, após 24 anos no poder. De acordo com as agências de notícias russas, Assad fugiu neste domingo (8) para a Rússia, enquanto os rebeldes tentam trazer estabilidade ao país assumindo posições estratégicas.
O The New York Times publicou que correspondentes do jornal norte-americano testemunharam nos últimos dias militantes do HTS assumindo posições em bancos e edifícios públicos e orientando o tráfego na capital Damasco.
A súbita campanha começou há treze dias quando o grupo HTS e facções rebeldes aliadas lançaram uma grande ofensiva no noroeste da Síria. No primeiro dia de dezembro, os rebeldes fizeram as tropas governistas recuarem de Alepo, principal polo econômico do país. Dias depois, em 5 de dezembro, a cidade de Hama passou para o controle da coalizão.
A capital do país, Damasco, e a importante cidade de Homs foram conquistadas nos dias seguintes, entre os dias 7 e 8 de dezembro. A ofensiva que forçou Assad ao exílio pôs fim a uma guerra civil de 13 anos, mas colocou na mesa uma série de incertezas sobre o futuro do país.
Segundo a Reuters, o principal comandante rebelde, Ahmed al-Sharaa, mais conhecido como Abu Mohammed al-Golani, reuniu-se no último final de semana com o primeiro-ministro de Assad, Mohammed Jalali, e o vice-presidente Faisal Mekdad para discutir os arranjos de um governo de transição.
À agência, fontes do banco central sírio e de dois bancos locais afirmaram que suas agências reabrem nesta terça (10) e que seus funcionários foram instruídos a retornar aos escritórios. A libra síria continua a ser utilizada no país, afirmaram.
O fim da guerra civil, que matou centenas de milhares de pessoas, desencadeou uma das maiores crises de refugiados dos tempos modernos e deixou cidades em escombros, extensas áreas rurais despovoadas e a economia devastada por sanções globais.
Milhões de refugiados finalmente poderão voltar para casa, vindos de campos na Turquia, Líbano e Jordânia.
A queda de Assad elimina um dos principais bastiões anti-imperialista no Oriente Médio e um dos principais aliados do Irã e da Rússia contra a influência dos Estados Unidos e seus aliados da Otan na região. A Turquia, alinhada há muito tempo aos opositores de Assad, emerge fortalecida, enquanto Israel celebra o desfecho de Assad como resultado de seus ataques contra os aliados do ex-presidente apoiados pelo Irã, tal como o Hezbollah libanês.
O mundo árabe, liderados por potências regionais como a Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes, agora enfrenta o desafio de reintegrar um dos estados centrais do Oriente Médio mesmo tempo em que veem como necessário conter o islamismo sunita radical que sustentou a revolta anti-Assad, mas também se transformou na violência sectária do Estado Islâmico.
Enquanto isso, a coalizão de milícias que derrubou o governo Assad deve enfrentar dificuldades para manter a unidade política e militar diante dos objetivos divergentes. Grupos como o HTS, Exército Nacional Sírio (SNA) e as Forças Democráticas da Síria (SDF) possuem visões e interesses distintos, o que pode gerar novos conflitos internos.
Itamaraty recomenda que brasileiros deixem a Síria
O Itamaraty decidiu esvaziar a embaixada brasileira em Damasco, capital da Síria, até que a situação no país se estabilize. O ministério das Relações Exteriores informou que a evacuação dos diplomatas brasileiros já “está em curso” e deve ser concluída nas próximas horas.
No fim de semana, o Itamaraty emitiu um comunicado expressando preocupação com a escalada de conflitos na Síria e orientando os brasileiros a deixarem o país. A chancelaria brasileira ainda avalia se haverá necessidade de realizar uma operação de repatriação como foram feitas em Gaza e no Líbano.
A comunidade brasileira na Síria é de cerca de 3.500 pessoas, sendo a maioria filhos de brasileiros nascidos no país. Até o momento, foram poucos os pedidos de assistência consular.
Em nota divulgada no sábado (7.dez.2024), o Itamaraty disse acompanhar a escalada de hostilidades na Síria com “preocupação” e pediu a manutenção da integridade da população da e da infraestrutura civil.
“O Brasil reitera a necessidade de pleno respeito ao direito internacional, inclusive ao direito internacional humanitário, bem como à unidade territorial síria e às resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Brasil apoia os esforços para solução política e negociada do conflito na Síria, que respeitem a soberania e a integridade territorial do país”, diz o texto.