O primeiro-ministro da França, Michel Barnier, corre o risco de ser derrubado nesta semana pelo parlamento francês, após ter tentado passar seu orçamento para 2025 sem o aval do Legislativo, nesta segunda (2). O premiê está apenas há dois meses no governo, mas enfrenta forte resistência por causa de um plano de austeridade fiscal.
Sem maioria no parlamento, Barnier usou poderes do Executivo para forçar a aprovação de um controverso orçamento, o que desencadeou a reação da oposição. A esquerda, liderada pela França Insubmissa (LFI, na sigla em francês), de Jean-Luc Mélenchon, apresentou uma moção de desconfiança, que também foi encampada pela extrema direita, de Marine Le Pen.
Juntas, tanto a LFI quanto a Reunião Nacional, de Le Pen, têm votos o suficiente para mobilizar uma derrocada do governo.
O debate sobre a moção de desconfiança está programado para começar às 12h (horário de Brasília) desta quarta (4). A votação deve durar cerca de três horas, segundo autoridades do parlamento.
A crise política chegou ao ápice no momento em que Barnier afirmou que tentaria fazer com que parte do orçamento referente à seguridade social fosse aprovado no parlamento sem votação.
Barnier invocou um dispositivo constitucional que raramente é usado para aprovar o orçamento sem que fosse necessária uma votação no Parlamento. O mecanismo também foi empregado pelo presidente Emmanuel Macron em 2023 para impor uma impopular reforma da Previdência.
O plano do primeiro-ministro prevê cortes de até 40 bilhões de euros (R$ 255 bilhões), além de um aumento de impostos para gerar uma arrecadação de 20 bilhões de euros (R$ 127 bilhões).
Barnier vinha buscando o apoio da extrema-direita para concretizar o plano. Nas últimas semanas, no entanto, seu gabinete e o grupo de Le Pen romperam.
A França vive uma crise política que se acentuou em junho. À época, Macron dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições após o avanço da extrema direita dentro do Parlamento Europeu.
As eleições francesas terminaram com uma vitória da frente ampla formada por uma união de partidos de esquerda. No entanto, nenhum dos grupos políticos conseguiu conquistar a maioria absoluta das cadeiras do Congresso.
Em setembro, Macron anunciou Michel Barnier como novo primeiro-ministro. Conservador, pragmático e apelidado de “Joe Biden da França”, Barnier foi escolhido com o objetivo de mediar as diferentes alas do Parlamento e por sua experiência política.
A nomeação, no entanto, não conseguiu acalmar os ânimos do Parlamento da França. O governo se tornou frágil, e o orçamento de 2025 jogou luz sobre a turbulência política que o país passa.