Moshe Yaalon, que antes pertenceu ao partido Likud e renunciou ao cargo ministerial por divergências com o premiê, afirmou que exército israelense está ‘limpando território dos árabes’
O ex-ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, acusou o exército israelense liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de cometer crimes de guerra e limpeza étnica na Faixa de Gaza. Uma reportagem publicada pelo jornal norte-americano The New York Times neste domingo (01/12) tratou a situação como “uma rara crítica de um membro do establishment de segurança em tempos de guerra”.
“O caminho que eles estão nos arrastando é ocupar, anexar e limpar etnicamente. Olhe para a faixa norte”, disse Yaalon em entrevista ao canal privado DemocratTV. Questionado sobre a avaliação do uso do termo “limpeza étnica”, respondeu que “não há mais Beit Lahia, não há mais Beit Hanoun, o exército intervém em Jabalia e, na realidade, estão basicamente limpando o território dos árabes”.
O norte de Gaza, onde incluem as áreas mencionadas por Yaalon, tem sido uma das regiões mais atingidas pelas forças israelenses desde 7 de outubro de 2023. Mais de 44 mil palestinos foram massacrados e mais de 1,9 milhão foram deslocados partir da intensificação das operações militares coordenadas por Tel Aviv no enclave.
Moshe Yaalon, de 74 anos, atuou como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas israelenses durante a segunda intifada, e como ministro da Defesa de Netanyahu na guerra de 2014 em Gaza. Em 2016, decidiu pela renúncia devido a divergências com o premiê e, desde então, tornou-se um crítico da autoridade israelense.
Os comentários de Yaalon provocaram reações condenatórias dos aliados de Netanyahu. O ministro da Segurança Nacional de extrema direita, Itamar Ben Gvir, afirmou ser uma “vergonha” para Israel “ter tido uma figura (como Yaalon) como chefe do Exército e ministro da Defesa”.
O partido Likud de Netanyahu, ao qual Yaalon pertenceu, criticou seus “comentários vazios e desonestos”, chamando-os de “um prêmio para o Tribunal Penal Internacional e para os inimigos de Israel”.
A declaração foi em referência aos mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, por cometimento de crimes de guerra e contra a humanidade em Gaza.
De acordo com o NYT, as declarações de Yaalon foram “surpreendentes”, uma vez que elas ocorrem em um momento que “israelenses de todo o espectro político se uniram em sua oposição à emissão de mandados pelo TPI para Netanyahu e Gallant”.