A capital portuguesa de Lisboa e seus arredores enfrentaram duas noites de distúrbios com mais de dez veículos incendiados um dia após morte violenta do cozinheiro Odair Moniz, 43 anos. Ele era popular no bairro onde morava.
De acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP), o homem negro foi morto na manhã da segunda-feira (21) a tiros pela polícia quando tentava atacar os agentes com faca no bairro Cova de Moura, em Amadora.
Moniz, que era de Cabo Verde, ex-colônia de Portugal, trabalhava num restaurante e possuía um ponto de café.
Foram registrados cerca de 60 incidentes em vários bairros da capital de Portugal. Dois policiais foram apedrejados e seus veículos danificados, além de ônibus e motos incendiados.
O deputado Fabian Figueiredo, presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, pediu que todos sejam tratados naquele país por igual com base no Estado de Direito.
“Não é possível que haja zonas onde a polícia mata mais e viola mais a lei do que outras”, disse.
O parlamentar observa que ser negro em Portugal aumenta a probabilidade de ser atingido mortalmente pelas forças de segurança 21 vezes.
“As populações das áreas urbanas de Lisboa, as pessoas racializadas, merecem o tratamento igual perante o Estado, merecem ser cidadãos de pleno direito. A permanente estigmatização que é feita tem este tipo de desfecho”, afirma.
O deputado diz ainda que uma solução de paz exige Justiça. “Justiça para a família que viu a sua casa invadida. E nós exigimos esclarecimentos ao Ministério da Administração Interna. É incompreensível que uma família enlutada veja a sua casa invadida por 15 agentes da especial da Polícia, que entram altamente armados, encapuzados. E não identificados”, denuncia.
Para ele, o país precisa de de uma polícia sintonizada com o Estado de Direito. “Quem é que deu esta ordem? Por que é que os policiais decidiram arrombar a porta daquela família? Qual é que foi a oportunidade dessa ação policial? Isto é uma ação provocatória”, diz.
Fabian afirma que as pessoas precisam sentir que são iguais perante a lei. “E é isso que resultará na calmaria, a reconciliação. Isso e várias alterações legislativas, além do investimento público que é preciso fazer nestas comunidades”, defende.