A campanha militar israelense no Oriente Médio prosseguiu nesta quinta (10) deixando dezenas de mortos em Gaza e Beirute. Forças de paz no sul do Líbano, na região de Naqoura, também foram alvos do exército de Israel, provocando reações das Nações Unidas, que falam em “crimes de guerra”.
Segundo a organização, dois soldados ficaram feridos após um tanque Merkava-4 israelense disparar contra uma torre de observação do quartel-general da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano, na sigla em inglês) na cidade próxima do litoral.
O ataque fez com que os dois soldados das Nações Unidas caíssem da torre. “Os ferimentos, felizmente, desta vez, não são sérios, mas eles permanecem no hospital”, disse a Unifil em um comunicado.
Foi o incidente mais grave envolvendo a força internacional desde que Israel a alertou para se mudar de posições libanesas perto de onde disse que os combatentes do Hezbollah lançaram foguetes contra o norte de Israel. As forças da ONU rejeitaram o pedido de mudança.
A Unifil foi criada em 1978 pelo Conselho de Segurança da ONU, mas através da resolução 1.701, em 2006, teve seu mandato estendido como forma de garantir a paz na chamada linha azul (fronteira do Líbano com Israel), em meio a retirada das tropas israelenses do Líbano. A Unifil conta com mais de 10.000 militares provenientes de 50 estados membros da ONU, inclusive onze militares brasileiros.
Pela resolução, os militares seriam responsáveis por monitorar o fim das agressões, apoiar as forças armadas libanesas durante a retirada de Israel do sul do Líbano e garantir o regresso seguro das pessoas deslocadas.
Nesta quinta, no entanto, os soldados israelenses também atiraram contra uma posição da ONU — chamada “1-31” — na vila de Labbouneh, “atingindo a entrada do bunker onde as forças de paz estavam abrigadas e danificando veículos e um sistema de comunicação”, disse.
A Unifil relatou ter observado um drone militar israelense voando dentro da posição da ONU até a entrada do bunker.Na quarta (9), soldados israelenses “dispararam deliberadamente e desativaram” as “câmeras de monitoramento” da posição, segundo o comunicado.
Os militares israelenses também “dispararam deliberadamente” contra uma segunda posição da ONU chamada 1-32A – na área de fronteira de Ras Naqoura, onde reuniões regulares eram realizadas antes do início do conflito, “danificando a iluminação e uma estação de retransmissão”, disse a Unifil.
Andrea Tenenti, porta-voz da missão de paz, disse em entrevista que os ataques israelenses foram “muito sérios” e “preocupantes”. O incidente também gerou protestos de Washington, Paris, Roma, Madri, Dublin e Jacarta, além de ter motivado uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta quinta.
Tenenti disse que a Unifil estava em discussão com as autoridades israelenses “para entender o que aconteceu”, mas enfatizou que “atacar as forças de paz é uma violação muito séria, não apenas da Resolução 1.701, mas também do direito internacional humanitário”.
Ele disse que os militares israelenses já haviam pedido às forças de paz da Unifil “para se moverem de certas posições ao longo da Linha Azul, mas decidimos ficar porque é importante que a bandeira da ONU seja hasteada no sul do Líbano”.
“Se a situação se tornar impossível para a missão operar no sul do Líbano… caberá ao Conselho de Segurança decidir como seguir em frente”, disse ele.
Mundo reage aos ataques israelenses a ONU
Uma série de países condenaram as violações internacionais cometidas pelo governo israelense ao atacar posições das forças de paz das Nações Unidas no sul do Líbano.
O ministro da Defesa da Itália classificou o incidente como “intolerável” e afirmou que o ataque “não foi um acidente”. Guido Crosetto disse que “protestou” com o seu homólogo israelense e convocou o embaixador do pais para prestar esclarecimentos.
“O tiroteio na sede da UNIFIL e outros incidentes envolvendo disparos de armas de pequeno porte são intoleráveis e devem ser evitados”, disse Crosetto em um comunicado.
A França também disse que estava aguardando explicações de Israel após os ataques as tropas da Unifil.
“A França expressa sua profunda preocupação após os tiros israelenses que atingiram a Força Interina das Nações Unidas no Líbano e condena qualquer ataque à segurança da Unifil”, disse o ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
“Aguardamos explicações das autoridades israelenses. A proteção dos mantenedores da paz é uma obrigação que se aplica a todas as partes em um conflito”, afirmaram os franceses.
Através de uma nota, o Itamaraty o Brasil criticou as ações do governo de Benjamin Netanyahu em áreas civis do Líbano, e pediu que Hezbollah e Israel encerrem a escalada de violência na região, diz o Vermelho.
Principal aliado de Israel, os Estados Unidos disseram estar “profundamente preocupados” com os relatos, declarou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.
“Entendemos que Israel realiza operações seletivas perto da Linha Azul para destruir a infraestrutura do Hezbollah”, disse o porta-voz, referindo-se à linha de demarcação entre Israel e o Líbano. Mas, acrescentou, “é fundamental que não ameacem a segurança das forças de paz da ONU”.