Rapaz que, desde tenra idade, transitou por um mundo sem leis, terá sua vida devassada e analisada de acordo com os critérios da lei.
Qual a razão do suicídio eleitoral de Pablo Marçal?
Vamos analisar por dois prismas: supondo que foi uma ação pensada ou foi por impulso.
A pensada seria a intenção de se inviabilizar como prefeito e sair como mártir do sistema. No segundo turno, ou poderia ser derrotado pela rejeição ao seu nome ou, se eleito, em pouco tempo suas fantasias seriam desmontadas pela vil realidade.
A hipótese de ter agido por impulso é mais consistente.
Marçal tem algumas características típicas do submundo onde construiu sua fama e sua riqueza. É impulsivo e violento – pela imagem pública, uma violência que se manifesta no campo verbal, mas com indicações preocupantes de como seria no campo real. Vira bicho quando contrariado, como se pode observar em algumas lives do “coach” em relação a qualquer contrariedade provocada por alguém do seu público.
Outra característica é o espírito de estelionatário, que se manifestou em inúmeros episódios. O exercício do estelionato é um vício, como o do jogo. O estelionatário sempre acha que a próxima tacada será vitoriosa.
Esses dois aspectos se somaram depois do último debate, na Globo. Nele, Marçal viveu seu persona civilizado, depois que pesquisas indicaram o desgaste do persona virulento. E recebeu, sem tempo de reagir, uma lapada do geralmente pacífico Guilherme Boulos, que apresentou seu laudo toxicológico e desafiou Marçal a fazer o mesmo.
Aí espicaçou o Marçal das quebradas, o sujeito que passou pelo aprendizado de golpes da religião, que desde os 18 anos convive com quadrilhas de estelionatários, que aprendeu os macetes da auto-ajuda, o vendedor de bíblia e de elixir, que já enfrentou guerras pesadas, até se consolidar como vitorioso em um mundo sem regras e sem lei. E ele se junta, então, a outro parceiro da tribo dos estelionatários, não consulta advogados, nem outros assessores, e troca todo o planejamento eleitoral por uma vingança, típica do submundo. E o anti-Charles 45, o jovem atrevido que enfrentou a malandragem, a hierarquia dos neopentecostais, o bolsonarismo, e o sistema, agora terá sua hora da verdade, um encontro com a Polícia Federal.
O que poderá surgir dessa devassa, só Deus sabe. O rapaz que, desde a mais tenra idade, transitou por um mundo sem leis, sem regras, terá, agora, sua vida devassada e analisada de acordo com os critérios da lei. E, deixará pelo caminho, milhares de fiéis que um dia acreditaram nas suas maluquices, um personagem tão convincente que enredou em suas fantasias seu próprio criador.
*GGN