Bolívia: Evo derruba mitos e sai fortalecido após marcha a La Paz, aponta cientista política

Bolívia: Evo derruba mitos e sai fortalecido após marcha a La Paz, aponta cientista política

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“Havia a ideia de que, depois de 2019, Evo não conseguiria voltar a El Alto e receberia repúdio imediato em La Paz. Ambas as ideias são falsas”, explica Susana Bejarano.

A recente marcha liderada por Evo Morales, desde o altiplano boliviano até as portas da “Casa Grande do Povo”, sede do governo em La Paz, é apenas mais um capítulo e um dos muitos que ainda restam na odiosa disputa política travada entre o ex-governante e o presidente Luis Arce Catacora.

A Bolívia terá eleições gerais em agosto de 2025, e no centro do enfrentamento entre ambos os personagens está aquele que será o candidato presidencial do Movimento ao Socialismo (MAS), apesar das diferenças ideológicas que têm se evidenciado. Assim, conforme o calendário eleitoral avança e essa questão não se resolve, é previsível que o embate continue se acirrando.

“A marcha e seu desfecho foram uma espécie de medição de forças, da qual ambas as partes saem ganhando”, afirma a cientista política Susana Bejarano em conversa telefônica com o La Jornada, direto de La Paz.

“A marcha evidencia situações que, a partir de uma leitura externa, podem parecer insignificantes, mas que são relevantes: uma demonstração de força absolutamente importante, que derruba mitos; e, do outro lado, o poder da institucionalidade e da democracia que respeitam o mandato de Arce, e que o presidente tem a prudência suficiente de não cair em tentações que teriam levado a um cenário muito mais complicado, seja a detenção de Morales ou o uso excessivo da força pública, cujo uso foi inteligente evitando altos níveis de violência”, resume Bejarano.

A força de Evo e a atuação de Arce
O êxito de ter chegado a La Paz permitiu a Morales exibir sua força – “isso é um enfrentamento no massismo, cujo piso é de 35% dos votos, e como em toda ação política, é preciso assegurar as bases. Isso não é pouca coisa, porque havia a ideia de que, depois de 2019 (quando Evo renunciou à presidência), ele não conseguiria voltar a El Alto (onde, então, houve dezenas de mortos durante a repressão militar que se seguiu à sua queda) e que em La Paz ele receberia um repúdio imediato. Ambas as ideias são falsas. Portanto, no massismo, que era o que lhe importava, creio que ele avança”.

Quanto ao governo, “à primeira vista, parece mais debilitado, mas também pode ser lido pela ótica da prudência: ele não cedeu à tentação, como pediam a oposição e vozes fortes do arcismo, de prender Morales; é essa prudência que faz com que o cenário não seja de violência anunciada”, diz Bejarano.

Assim, “Arce tem consigo a força da democracia, o que faz com que não haja uma pulsão — apesar da crise — de ruptura na Bolívia. A maioria dos bolivianos, 70%, acredita que Arce deve terminar o mandato“. Em síntese, Evo cumpriu o objetivo de chegar a La Paz e, apesar de ter dito que a destituição de ministros vai derrubar o governo, “isso não vai acontecer; dissipa-se a ideia de que ele poderia derrubar o governo”.

*Diálogos do Sul

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