Ao manipular informações sobre a realidade no Líbano, Globo prova que é muito mais uma “agente americana” do que o Hezbollah é um “agente iraniano”
O Jornal Hoje de segunda-feira (23) exibiu uma reportagem narrada pela correspondente em Tel Aviv, Paola de Orte, sobre os ataques israelenses ao Líbano. Como todas as reportagens da Rede Globo sobre o Oriente Médio, em especial sobre o genocídio de Israel em Gaza, praticamente nenhum elemento foi produzido pela Globo. As imagens e depoimentos foram todos recolhidos pelas agências de notícias internacionais – Reuters, AP e AFP, praticamente. Fora o voice over, apenas uma das entrevistas foi feita pela equipe da Globo.
Diz Paola de Orte, narrando a reportagem: “o analista político e professor de História na Universidade Americana de Beirute, Makram Rabah, explica que o Hezbollah, apesar de ser um grupo libanês, não representa os interesses do Líbano”. Então, ela dubla a fala de Rabah: “o Hezbollah é um representante do Irã e, embora muitas pessoas o vejam como um grupo libanês, é de fato um agente iraniano que domina o espaço político e econômico do Líbano.” Então, a repórter finaliza: “para o professor, o chefe do grupo, Hassan Nasrallah, não se importa com o povo libanês, mas com uma oportunidade de ganho político.”
Quem é Makram Rabah
Primeiro, vamos ver quem é Makram Rabah. Como a própria reportagem o apresenta, ele dá aulas na Universidade Americana. Esta universidade é reconhecidamente uma formadora de quadros pró-estadunidenses e de colaboradores da CIA no Líbano, há décadas. Ele também é ligado a outras instituições de ensino e pesquisa dos Estados Unidos, como o Washington Institute, um dos inúmeros think tanks do imperialismo americano.
O discurso de Rabah reflete a sua formação e corresponde aos mandamentos de seus patrões, os americanos. A máquina de propaganda dos EUA martela na cabeça do público que o Hezbollah, assim como o Hamas e os Hutis, é um “agente iraniano”. Essa é uma velha tática propagandística para deslegitimar adversários. O czarismo e depois Kerensky acusavam os bolcheviques de serem “agentes alemães”. Joseph McCarthy perseguiu até mesmo artistas de Hollywood tachando-os de “agentes russos”. Os médicos cubanos que curaram tantos pacientes brasileiros eram considerados “agentes de Castro” pela Veja.
Essas afirmações contra o Hezbollah não correspondem à realidade. O Hezbollah nasceu da luta do povo libanês, particularmente dos muçulmanos xiitas, contra os representantes da dominação americana e israelense no país. A Guerra Civil libanesa iniciou em 1975 e o Partido Falangista, um partido abertamente fascista e terrorista, recebia todo o apoio dos EUA e de Israel para esmagar os muçulmanos a ferro e fogo e controlar o país. Seu líder, Bashir Gemayel, era um agente americano. E sem aspas. Porque, ao contrário da propaganda dos EUA contra o Hezbollah e o Irã, está plenamente documentado que, ainda quando vivia nos EUA, Gemayel havia sido recrutado pela CIA. Conforme seu poder aumentava, aumentava também a propina paga pela CIA e pelo Mossad.
Invasão, ocupação e a Resistência no Líbano
Dois meses e meio depois da invasão de Israel ao Líbano, em 1982, ele subiu ao poder no país. Dois dias após Gemayel ser assassinado pelos opositores, o exército de ocupação israelense apoiou a invasão das milícias falangistas aos acampamentos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, que resultou nos famigerados massacres comparáveis apenas ao que Israel está fazendo atualmente em Gaza.
A ocupação israelense só terminou em 2000, mas voltou a acontecer rapidamente em 2006. Durante todos esses anos, a partir da década de 1980, quem esteve na linha de frente da luta pela expulsão dos invasores do Líbano foi precisamente o Hezbollah. É claro que o Hezbollah recebe forte apoio do Irã, em todos os sentidos. Os iranianos devem ser aplaudidos por isso, assim como pelo apoio à Resistência Palestina, aos Hutis e à Síria. Todos eles têm uma luta comum: a luta pela libertação nacional e de toda a região do domínio imperialista, exercida principalmente através de sua base militar chamada Israel.
*Eduardo Vasco/Diálogos do Sul