Sem um acordo de cessar-fogo e com a continuidade da guerra em Gaza, a imagem e narrativa de Israel estão perdendo cada vez mais credibilidade na comunidade internacional – e nem mesmo o lobby sionista será capaz de alterar esse cenário. Essa é a avaliação do jornalista britânico James Kleinfeld.
Kleinfeld é autor do documentário O Lobby – EUA, uma reportagem investigativa que adentrou no lobby político sionista no território norte-americano. Durante cinco meses em 2016, o repórter da emissora catari Al Jazeera se infiltrou em grupos da direita israelense para detalhar as formas e ações de pressão do Estado de Israel na opinião pública dos Estados Unidos.
A Opera Mundi, Kleinfeld disse que uma das principais revelações da investigação foi descobrir a maneira que o Estado israelense “espionava cidadãos norte-americanos e manchava suas reputações”. Segundo ele, esse método tinha como objetivo maior reunir informações de ativistas pró-Palestina para serem utilizadas depois como “capacidade ofensiva”
No entanto, para o jornalista, há uma mudança de opinião em relação ao Estado israelense nos últimos anos e, primordialmente, após a escalada do massacre contra os palestinos, que já vitimou mais de 40 mil civis: “um número cada vez maior de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo está retirando o apoio que antes poderia ter tido em relação a Israel”.
“A imagem de Israel está afundando e nada que o lobby sionista faça pode impedir isso. Ninguém mais está comprando sua narrativa e eles sabem disso”, afirmou Kleinfeld.
Leia na íntegra a entrevista de Opera Mundi com James Kleinfeld:
Opera Mundi: James, você se infiltrou no lobby sionista nos Estados Unidos e revelou as diversas interferências do Estado de Israel. O que você destaca como a principal ferramenta desse lobby pró-Israel?
James Kleinfeld: a principal revelação de minha investigação secreta dizia respeito à maneira como o Estado de Israel, trabalhando em conjunto com seu poderoso lobby nos Estados Unidos, espionava cidadãos norte-americanos e manchava suas reputações. Os lobistas de Israel que conheci me revelaram uma sofisticada operação de espionagem, envolvendo diversas organizações que atuam em estados de todo o país e a implantação de spyware [software utilizado para espionar atividades na internet sem consentimento] de alta tecnologia de Israel contra cidadãos norte-americanos que cumprem a lei.
O objetivo é reunir o máximo possível de informações sobre ativistas pró-Palestina e, em seguida, usar essas informações em uma capacidade ofensiva. O lobby de Israel cria sites anônimos que difamam seus oponentes como antissemitas e simpatizantes do terrorismo. O mais famoso desses sites é o da Canary Mission, que tem o objetivo explícito de arruinar as oportunidades de emprego para estudantes graduados que apoiam os direitos palestinos.
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O documentário da Al Jazeera foi censurado após pressão de Israel. Por que e como Israel tem tanto poder?
A relação entre os Estados Unidos e Israel é complexa e não pode ser reduzida a nenhum dos lados. A relação recíproca remonta a décadas. Para Israel, a ajuda militar e o apoio econômico fornecidos pelos Estados Unidos têm um papel essencial na manutenção e na sobrevivência do Estado sionista. Para os Estados Unidos, Israel é um local geoestratégico extremamente importante no coração do Oriente Médio.